A realidade das mudanças climáticas e suas consequências catastróficas nos alertem sobre a necessidade de criar um sentido de responsabilidade com a casa comum
Por padre Gianfranco Graziola*
Quem costuma analisar a realidade social sabe que não é fácil ter hoje uma visão completa do complexo universo em que vivemos e de suas múltiplas e poliédricas facetas. Também não podemos ignorar que os avanços da ciência, os pulos da tecnologia e os efeitos de uma pandemia, aparentemente superada, mudaram equilíbrios e relações de forças entre governos e sociedades que até alguns anos atrás eram dominantes e hoje dependem em sua política econômica das nações emergentes.
Hoje mais do que nunca, quem analisa o contexto e o conjunto das realidades seja local como nacional e internacional, sabe que não consegue colher todos os aspectos de uma mudança que é tão repentina e que ninguém consegue acompanhar em sua constante evolução.
Quem não parece ainda querer aceitar isso são os governos e os poderes públicos em todas as suas esferas, mais preocupados em se afirmar e em manter um passado saudosista, militarista, xenófobo, alimentando um falso conceito de democracia cujo rosto teocrático vai encontro ao desejo de segurança e bem-estar de alguns e ao sonho milagroso de outros.
Mas como ignorar desafios cuja resposta exige atitudes e soluções coletivas, decisões que precisam ser pensadas, avaliadas, construídas e assumidas pela coletividade? Constata-se, porém, que, apesar desta demanda cada mais urgente e inadiável continuamos tendo um estado e seus atores ancorados a um passado que se obstina a responder aos desafios sociais e suas demandas com a força e a ação truculenta das policias imagem repaginada e mal atualizada de um totalitarismo que nada tem a ver e compartilhar com o estado cidadão, participativo, responsável onde as pessoas são seu bem maior e onde existe profunda sintonia e interação na busca do bem comum que é a verdadeira política.
Mais do que nunca, precisamos ajudar a coletividade a adquirir uma nova visão da realidade para cuidar da vista adoecida pelo pensamento único e cegada pelo neoliberalismo, oferecendo óculos cujas lentes ajudem a enxergar de forma nova a realidade onde mudanças climáticas e suas consequências catastróficas nos alertem sobre a necessidade de criar um sentido de responsabilidade com a casa comum na construção, através de um paciente e diário trabalho, a ecologia integral cujo fundamento seja a fraternidade e amizade social superando desconfianças e fundamentalismos ideológicos religiosos.
Só este novo olhar nos consentirá de enfrentar os desafios do tempo presente para construir um futuro que mais do que seguranças nos ofereça o que nem a inteligência artificial nos pode oferecer: o bem viver da terra sem males onde reina a civilização do amor que Francisco denomina como amizade social. Boa noite.
*Padre Gianfranco Graziola é assessor teológico da Pastoral Carcerária Nacional