O relatório de Conflitos no Campo 2023 da Comissão Pastoral da Terra indica que o número de pessoas resgatadas do trabalho escravo é o maior dos últimos dez anos.
Realidade ainda marcante no campo brasileiro, a quantidade de denúncias e resgates de pessoas em situação de trabalho escravo chama a atenção pelo aumento dos números registrados nos últimos três anos, especialmente em 2023. Segundo o relatório anual Conflitos no Campo Brasil, publicado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram 251 casos de trabalho escravo denunciados, cuja fiscalização resultou no resgate de 2.663 pessoas trabalhando em atividades rurais no último ano.
O levantamento apresenta o maior número da última década, tanto pelos casos identificados quanto pelos trabalhadores resgatados. O aumento de casos identificados, em comparação com o ano de 2022, é de 22%, e de 21% em relação ao número de trabalhadores resgatados nesse mesmo período. Isso representa quase três vezes mais que a média anual observada nos últimos dez anos. Os estados que se destacaram pela quantidade de casos de trabalho escravo rural foram Minas Gerais (58), Pará (21), Goiás (17), Piauí (14), Paraná (14), Rio Grande do Sul (13) e São Paulo (13).
Quando o recorte é resgate, Goiás ficou em primeiro lugar, com 699 trabalhadores retirados do trabalho escravo; em seguida vem Minas Gerais, com 472; Rio Grande do Sul, com 323; São Paulo e Piauí, com 150.
É importante frisar que o crescimento nos casos registrados e de trabalhadores libertos tem relação direta com o aumento considerável no número de fiscalizações realizadas nos últimos três anos, tanto no campo quanto na cidade, como aponta a campanha permanente da CPT De Olho Aberto para não Virar Escravo.
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
2023 |
|
CASOS IDENTIFICADOS |
132 |
80 |
68 |
67 |
86 |
89 |
95 |
170 |
206 |
251 |
TRABALHADORES ENVOLVIDOS |
2494 |
1760 |
751 |
532 |
1465 |
880 |
1070 |
2035 |
2605 |
2989 |
RESGATADOS |
1242 |
556 |
544 |
389 |
945 |
745 |
776 |
1726 |
2208 |
2663 |
*Dados atualizados até 04/04/2024. Fonte: Campanha Nacional da CPT de Combate ao Trabalho Escravo e Centro de Documentação da CPT-Dom Tomás Balduíno.
No último ano, a cana-de-açúcar foi a atividade onde mais se resgatou mão de obra escravizada, com 618 trabalhadores resgatados, seguida pelas lavouras permanentes, com 598 — especialmente o café: 302, e uva: 210 —, e pelas lavouras temporárias, com 477. Nos cinco primeiros estados do ranking, o trabalho escravo rural é também concentrado em atividades ligadas ao agronegócio. Segundo os dados disponíveis, duas em cada três ocorrências estão nessa categoria, bem como quatro em cada cinco trabalhadores resgatados.
Em Minas Gerais, estado que se destaca nos registros de trabalho escravo, o maior número de resgates é no setor cafeeiro: 231 trabalhadores, em 28 ocorrências. Já no Rio Grande do Sul, o maior número de resgatados do trabalho escravo foi na colheita da uva, com 210 trabalhadores resgatados, a maioria trazidos da Bahia, em três vinícolas de renome: Garibaldi, Saltão & Aurora.
Região |
Casos Identificados |
CasosFiscalizados |
TrabalhadoresEnvolvidos |
Trabalhadores Resgatados |
Norte |
40 |
40 |
362 |
165 |
Nordeste |
63 |
62 |
480 |
470 |
Centro-Oeste |
32 |
31 |
838 |
793 |
Sul |
33 |
31 |
484 |
459 |
Sudoeste |
83 |
80 |
825 |
776 |
Total |
251 |
244 |
2.989 |
2.663 |
*Dados atualizados até 04/04/2024. Fonte: Campanha Nacional da CPT de Combate ao Trabalho Escravo e Centro de Documentação da CPT-Dom Tomás Balduíno.
Por Comunicação CPT
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