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Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo da Arquidiocese de Feira de Santana – BA, e presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB | Foto: Arquivo pessoal
Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo da Arquidiocese de Feira de Santana – BA, e presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB | Foto: Arquivo pessoal

O Arcebispo de Feira de Santana, Dom Zanoni Demettino Castro destaca papel das religiões na construção de um mundo de paz em Fórum do G20

 

O Arcebispo de Feira de Santana, Dom Zanoni Demettino Castro, participou do Fórum Inter-religioso do G20, em Brasília, no dia 20 de agosto, representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em sua fala, ele ressaltou a importância das religiões na promoção de um mundo de paz, enfatizando a necessidade de harmonia com a Criação e respeito aos limites do planeta.

Dom Zanoni também abordou os desafios da atual crise global, marcada por desigualdades, desemprego, fome e conflitos armados. Ele defendeu a necessidade de novos modelos de desenvolvimento e estilos de vida que promovam a justiça social e a sustentabilidade ambiental.

O arcebispo alertou para os perigos da desinformação, da manipulação de notícias e do discurso de ódio, e conclamou a humanidade à reconciliação e à busca por soluções conjuntas para os problemas do mundo. Ele destacou o papel da educação na construção de uma cultura de paz e na formação de cidadãos conscientes de seus direitos.

A fala de Dom Zanoni no Fórum Inter-religioso do G20 reforça o compromisso da Igreja Católica com a construção de um mundo mais justo, fraterno e sustentável, em diálogo com outras tradições religiosas e a sociedade civil.

 

A seguir, a transcrição completa da fala de Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo da Arquidiocese de Feira de Santana, no Fórum Inter-religioso do G20 e Fórum Anual ParRD sobre Religião e Desenvolvimento Sustentável, realizado em Brasília–DF, no dia 20 de agosto de 2024. O tema abordado foi “Não deixar ninguém para trás: o bem-estar do planeta e de seu povo”.

 


Senhores e Senhoras,
Para mim é motivo de profunda alegria participar deste Fórum Inter-religioso do G20. Estou na condição de representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Desejo muito, nesta circunstância, expressar minha gratidão pela oportunidade que me foi dada de falar neste importante acontecimento. O imperativo é: Não deixar ninguém para trás: O Bem-estar do Planeta e de seu Povo.
Temos consciência do importante papel das religiões na gestão de um mundo de paz. Precisamos todos nos envolver por uma vida em harmonia com a Criação, respeitando os limites do planeta. Temos presente a realidade de sofrimento de comunidades pobres e vulneráveis. Por isso, pedimos novos modelos de desenvolvimento e estilos de vida, que sejam compatíveis com o clima e sejam capazes de afastar as pessoas da pobreza.
Neste momento, vivemos uma crise avassaladora quando é constatado que a vida humana é ameaçada, no que diz respeito aos seus direitos básicos negados. Isto é, presenciamos crescer exponencialmente a desigualdade, o desemprego e a fome. Paulo Freire, na “Pedagogia do Oprimido”, fala desta realidade como desumanização, não como destino dado, mas, segundo ele, uma ordem injusta que gera a violência dos opressores.
Por outro lado, presenciamos o terror da guerra em muitos pontos do nosso planeta. O Papa Francisco tem dito: “estamos numa guerra mundial em pedaços”. Ao mesmo tempo, têm-se diversas narrativas. É grave a realidade da desinformação, manipulação de notícias, disseminação de fake news e discurso de ódio.
Todavia, diante desta realidade complexa, mudar é necessário. Em meio a muitas polarizações, a humanidade necessita ser reconciliada, em si e com o cosmo. A complexidade deve ser enfrentada, com amplitude de pensamento, racionalidade coerente e ações que provoquem uma radical mudança. Destarte, diante de uma crise planetária, a sociedade anseia por unidade, por comunhão. Há, sem dúvida, um despertar para a produção do conhecimento multidimensional, para a complexidade do pensamento globalizante e a consciência reflexiva de si e do mundo a partir da crítica e da reflexão transformadora.
Neste processo, pensar, envolvendo as partes e os recortes, vendo, simultaneamente, o múltiplo e o complexo. Respostas simplórias, superficiais, não são suficientes, pois uma educação, na perspectiva de uma pedagogia da paz, deve passar por um processo mais amplo, inserida na educação dos Direitos Humanos, cujo horizonte é a formação do sujeito de direitos. Essa é uma das urgências e exigências para uma formação mais transformadora e humanizadora no fortalecimento dos regimes políticos democráticos na sociedade. O grande Paulo Freire foi enfático nesta defesa.
Desta forma, nos perguntamos: Qual deve ser a nossa postura? Quem vai gestar um mundo de paz? É, justamente, aqui, que se coloca nossa responsabilidade. Nossa geração tem a responsabilidade de conseguir que os valores que anunciamos sejam fermento no processo de gestação do novo modelo cultural.
Muito obrigado pela atenção.

Referências:

  • Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
  • A temática da guerra mundial em pedaços foi tratada na análise de conjuntura da CNBB 2023 citando o Papa Francisco. https://www.ihu.unisinos.br/categorias/619519-o-papa-afirma-que-a-terceira-guerra-mundial-foi-declarada-e-que-o-conflito-na-ucrania-talvez-tenha-sido-provocado
  • Cf. De Jesus, João Eudes Rocha. Retórica e Fake News: Uma análise da mentira como meio de persuasão. Quaestio Iuris. Vol. 14, 04. Rio de Janeiro, 2021.
  • Edgar Morin faz uma boa reflexão sobre este tema, esclarecendo a necessidade da produção de um conhecimento multidimensional e a complexidade do pensamento globalizante, a consciência reflexiva de si e do mundo a partir da crítica e da reflexão transformadora.
  • Em seu livro Pedagogia do Oprimido Freire ao justificar a pedagogia do oprimido desenvolver bem a temática da humanização e desumanização. Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.Cf. Silva, Aida Maria Monteiro e Tavares, Celma. Educação em direitos humanos no Brasil, 49.

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