Por Juce Rocha | Cepast-CNBB*
Teve início na terça-feira (21) o 5º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP), que segue até sexta-feira (24). O primeiro encontro com movimentos populares aconteceu por convocação do Papa Francisco em 2014, desde então reúne periodicamente lideranças populares do mundo inteiro para discutir temas como justiça social, terra, moradia, trabalho, democracia e migração. 
Sob o lema “Vamos organizar a aliança global”, o 5º EMMP reafirma a luta comum por Terra, Teto e Trabalho, articulando experiências, resistências e esperanças de povos que enfrentam as mesmas estruturas de exclusão em diferentes partes do mundo. Cerca de 170 representantes de movimentos populares e sociais participam desta edição do encontro. 

Participação do Brasil

O Brasil é representado pela pela dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a paraense Ayala Ferreira e pelo  Coordenador nacional do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem-Teto (MTST-Brasil), Rud Rafael. 
O MST integrou a coordenação da 6ª Semana Social Brasileira (6ª SSB), de 2022 a 2024, iniciativa da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB. Inspirada no 1º Encontro do Papa Francisco com os movimentos populares,  a 6ª SSB teve como lema “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”. Os resultados da SSB estão no documento “Projeto Popular: o Brasil que queremos, o bem viver dos povos”
Dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a paraense Ayala Ferreira participa do 5ª EMMP. Fotos: EMMP

Articulação global

O 5º EMMP  foi apresentado pelo Cardeal Michael Czerny, pelo padre Mattia Ferrari e pela ativista congolesa Micheline Mwendike, em coletiva de imprensa no dia 16 de outubro. “Não é um evento, mas uma etapa de um processo de esperança”, enfatizou Ferrari. O encontro também busca responder ao que o Papa Leão XIV, em continuidade com Francisco, chamou de “globalização da impotência”. É a primeira vez que movimentos populares se encontram com o novo pontífice.
“Os movimentos populares e seus encontros são uma plataforma global articulada em torno dos três Ts destacados pelo Papa Francisco: terra, abrigo e trabalho”, lembrou Christine Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa do Vaticano. Este novo encontro “continua esse caminho, com foco em direitos fundamentais e questões críticas como democracia, migração e mudanças climáticas”, acrescentou.
De acordo com a declaração de Charo Castelló, do Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (WMCC), em entrevista para o jornal Noticias Obreras, no primeiro dia do encontro a atmosfera estava carregada de emoção, união, gratidão, memória e esperança. 

Diversidade na unidade

Lideranças de movimentos populares participam do 5º EMMP. Fotos: EMMP
“Hoje, mais do que nunca, devemos gritar que a terra, o abrigo e o trabalho são direitos sagrados”, proclamou Charo Castelló. Ele enfatizou que o movimento está em “um ponto de virada” que não nos convida a olhar para trás, mas sim “a impulsionar novas formas de luta, alianças e organização”, em continuidade ao caminho iniciado pelo Papa Francisco e confirmado pelo Papa Leão XIV.
Em entrevista para o Vatican News, o coordenador do EMMP, padre Mattia Ferrari  destacou que “é fundamental recordarmos que, sem os Movimentos Populares, a democracia se atrofia, como disse Francisco e reitera Leão em sua Exortação Apostólica.  Corre o risco de se tornar uma democracia formal. Em vez disso, ela é verdadeira quando é substancial, quando os povos participam ativamente. O nosso caminho tem também esse objetivo: a coisa mais importante da vida são as relações. Devemos fazer de modo que todos os atores sociais tenham relações vivas”.