Um adolescente Ka’apor de 15 anos ferido ao tentar combater os incêndios criminosos que são cada vez mais frequentes. Desde agosto, as queimadas têm assolado o território, e os indígenas lutam sozinhos sem qualquer apoio do governo
Por Andressa Algave | Cimi – MA
No início deste mês, um jovem Ka’apor de 15 anos teve queimaduras graves nos pés durante o enfrentamento aos focos de incêndio na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, localizada na região noroeste do Maranhão. O jovem caiu em um buraco com brasas enquanto ajudava a controlar o fogo no território, e após o acidente foi deslocado para um hospital em Zé Doca (MA), a 81 km da TI, onde está em tratamento.
A TI tem sido alvo de focos de incêndio desde agosto. Desde então, os brigadistas indígenas do Conselho Tuxa Ta Pame têm combatido o fogo sem equipamentos adequados ou qualquer apoio institucional, fator que tem colocado em risco a integridade física das comunidades indígenas.
As brigadas em atividade, compostas em sua maioria por indígenas, tem denunciado que os incêndios são criminosos e tem origem nas fazendas que cercam o território. O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) relatou ter registrado 25 mil hectares de floresta destruída pelas chamas na TI, que também integra a área da Amazônia Legal maranhense. Além dos indígenas feridos, lideranças denunciam que diversos animais silvestres têm morrido carbonizados pelo fogo.
“A gente tá tentando apagar esse fogo e não conseguimos. Pedimos apoio para o Ibama, e até agora o fogo continua. O fazendeiro bota fogo na fazenda e depois ele se espalha para o território indígena. Pedimos apoio para tentar apagar. O fazendeiro é culpado, não o indígena”

A TI Alto Turiaçu, que é casa dos povos Awa-Guajá e Ka’apor, tem 530.524 mil hectares e fica às margens da BR 316, que liga as cidades de Belém, Teresina e Recife. O território fica a sete horas de Belém (PA) e São Luís (MA), e está sobreposto a seis municípios do noroeste do estado maranhense – Zé Doca, Araguanã, Nova Olinda do Maranhão, Maranhãozinho, Centro do Guilherme e Centro Novo do Maranhão.
Apelo
Em vídeo publicado nas redes sociais, uma liderança da TI Alto Turiaçu e integrante do Conselho Tuxa Ta Pame, fez um apelo para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ajude os brigadistas indígenas na contenção do fogo. “A gente tá tentando apagar esse fogo e não conseguimos. Pedimos apoio para o Ibama, e até agora o fogo continua. O fazendeiro bota fogo na fazenda e depois ele se espalha para o território indígena. Pedimos apoio para tentar apagar. O fazendeiro é culpado, não o indígena. O indígena tá cuidando do território”, exigiu.
Sem ajuda, as brigadas recorrem aos sopradores, facões e galões de água no enfrentamento às chamas. Em um vídeo, um jovem Ka’apor escala a floresta com um galão de água nas costas para acessar um dos focos de incêndio.