Desejamos fortalecer o pedido do Santo Padre no debate sobre o que significa a imensa quantia econômica gasta nas guerras, transferida aos bancos, pagamento de juros, a espoliação de Mãe Terra e da natureza
 

Por Rosilene Wansetto – Jubileu Sul Brasil*

 

A Rede Jubileu Sul Brasil é filha de uma articulação costurada na última década do século XX e início do século XXI. Nesse esforço de amplo respiro, envolveram-se movimentos e pastorais sociais, Igrejas ligadas ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), organizações populares e sociais, associações, sindicatos, Pastorais Sociais, Grito dos Excluídos/as, além de numerosos organismos e entidades preocupadas com os danos do endividamento público sobre os direitos sociais. O processo das Semanas Sociais Brasileiras (SSBs) ajudou a pavimentar o terreno dessa articulação.

 

Breve histórico
A 1ª Semana Social Brasileira (SSB) foi realizada em novembro de 1991, com o tema “O Mundo do Trabalho: Desafios e Perspectivas”. O momento nacional foi precedido por Semanas Regionais. A 2ª SSB desdobrou-se de 1992 a 1994, com o tema: “O Brasil que a gente quer, o Brasil que nós queremos.
Precedida também por Semanas Regionais, chegou a uma síntese na proposta de um “Brasil economicamente justo, politicamente democrático, socialmente solidário e culturalmente plural”. A 3ª SSB foi uma “semana de 3 anos”de 1997 a 1999, coincidindo com o tríduo da preparação ao Jubileu 2000, convocado pelo então João Paulo II. Teve como temática o “perdão das dívidas”. E foi desse processo que se fortaleceu ao redor do mundo, especialmente do Sul global, a temática do Jubileu 2000 motivando uma “Campanha do Jubileu 2000 – Por um milênio sem dívidas”.
Nesse solo fértil das SSBs, nasceram e cresceram  uma série de iniciativas de caráter amplo e plural. Junto com o Grito dos Excluídos/as, o Tribunal da Dívida Externa, a Auditoria Popular do endividamento público, as Assembleias e os Plebiscitos Populares.

 

Jubileu da Esperança
A Campanha Jubileu 2000 com seu mote central “pelo perdão da dívida externa” dos países altamente endividados ganha força com o chamado para o ano Jubilar convocado pelo Papa. Foi e continua sendo importante, considerando o contexto da economia globalizada e neoliberal. Trata-se de debater as causas e consequências das relações internacionais em geral e, em particular, da relação Norte-Sul.
O Jubileu biblicamente tem a ver com o descanso da terra, a recuperação de terras e casas alienadas por dívidas e a libertação dos escravos.  É neste espírito, mas não só, que a Rede Jubileu Sul se alimenta, se coloca a serviço neste ano Jubileu de 2025. Neste Jubileu da Esperança, que o papa Francisco convoca para 2025, queremos fortalecer a sinergia em torno do debate sobre as ilegitimidades das dívidas financeiras que fazem cada vez mais ricos os especuladores e os detentores desses títulos, e deixando ao povo as dívidas sociais, ausência de direitos.
Desejamos fortalecer o pedido do Santo Padre no debate sobre o que significa a imensa quantia econômica gasta nas guerras, transferida aos bancos, pagamento de juros, a espoliação de Mãe Terra e da natureza, assim como propõe que as potências ricas perdoem as dívidas dos países pobres (n. 16).  Nós incluímos um elementos nesta reflexão que é muito mais que “perdão” e, sim, a reparação dessas dívidas históricas, colonial, financeira, social, ecológica e climática.
Neste ano de 2024, o Jubileu Sul no Brasil renova seu compromisso com as comunidades, com os territórios, com a sociedade, de seguir  fortalecendo o diálogo com a humanidade, a serviço da paz, da justiça e do cuidado com a Mãe Terra e a Vida, e principalmente por reparações das dívidas – a Vida Acima da Dívida! (slogan que nos motiva há 25 anos).
Recordamos que, historicamente, através de extorsão, exploração e progressivo endividamento, os países do Sul tornaram-se endividados e dependentes de políticas econômicas que, ao mesmo tempo, concentram e excluem. A partir do centro, instala-se um neocolonialismo de mercado planetário. Os países periféricos convertem-se em reféns do capital financeiro que, com a velocidade de um toque na tecla do computador, transita sem qualquer controle.
A desregulação do capital virtual e volátil sangra não somente as economias dependentes, com juros sobre juros, mas também os setores de baixa renda da população, especialmente populações periféricas, mulheres, povos originários. Aprofunda-se o fosso entre Norte e Sul global.
Pesa o preço da dívida pública: desemprego crônico, flexibilização e precarização das relações de trabalho, diminuição do poder aquisitivo, migrações em massa, danos ao meio ambiente por meio da mineração, da deflorestação, e ainda a queima de combustíveis fósseis e o predomínio da agroindústria e do agronegócio, contribuindo assim para a poluição do ar e das águas, a devastação e a desertificação do solo, culminando no aquecimento global.

 

*Texto publicado originalmente no site da Rede Jubileu Sul Brasil

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