Encontro virtual reúne agentes de pastorais do campo para aprofundar reflexões sobre a Campanha da Fraternidade 2025 e a interconexão entre meio ambiente, sociedade e espiritualidade.
Por Cláudia Pereira| Cepast-CNBB
A Articulação das Pastorais do Campo promoveu na quarta-feira (26/02), um encontro virtual formativo com o tema central da Campanha da Fraternidade 2025: Ecologia Integral, quem tem como lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A professora e pesquisadora Marcia Oliveira, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), conduziu o momento de reflexão, que reuniu agentes pastorais e interessados de diversas regiões do Brasil.
O secretário executivo da APC, Thiago Valentim, deu as boas-vindas aos participantes e à professora Marcia, ressaltando a importância do debate sobre o tema nas comunidades, especialmente no contexto dos territórios dos povos do campo, das florestas e das águas.
A professora Marcia iniciou a roda de partilha com a oração da Campanha, em solidariedade ao Papa Francisco, que se encontra hospitalizado para tratar de quadro de pneumonia. Em seguida, aprofundou o significado da Ecologia Integral, conceito central da encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, que enfatiza a interconexão entre as dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas e espirituais.
“O tema da ecologia é central para nos motivar a refletir sobre nossas ações e responsabilidades em relação ao meio ambiente”, afirmou a professora, explicando a etimologia da palavra ecologia e exemplificando o conceito com vivências e exemplificando a relação dos povos originários com a casa comum.
Para aprofundar a compreensão da ecologia, ciência que estuda as relações entre os seres vivos e seus ambientes com o objetivo de promover o equilíbrio entre a humanidade e a natureza, a professora Marcia Oliveira destacou o conceito de Ecologia Integral, introduzido pelo Papa Francisco. Essa visão inovadora transcende a ecologia tradicional, enfatizando a intrínseca interconexão entre as dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas e espirituais da vida.

“A energia renovável, muitas vezes vendida como ‘limpa’, ainda causa danos significativos à natureza”
A Ecologia Integral adota uma abordagem holística, reconhecendo que todos os aspectos da existência estão interligados, desde a saúde dos ecossistemas até o bem-estar das comunidades humanas. “Como o Papa Francisco destaca em sua encíclica ‘Laudato Si’, a crise ambiental é inseparável da crise social, e ambas exigem uma resposta integral que promova a justiça, a solidariedade e o cuidado com a “casa comum”, explanou Marcia.
No eixo Iluminar do texto base da CF 2025, Marcia destacou a necessidade de superar a visão antropocêntrica e promover a interação com a vida em todas as suas formas. Ela apresentou o conceito de “bem viver” como alternativa ao capitalismo, defendendo a responsabilidade coletiva na preservação da “casa comum”.
A formação proporcionou reflexões sobre os impactos da crise ambiental nos territórios dos povos do campo, das florestas e das águas, e instigou o debate sobre a justiça social e ambiental.
Após a apresentação da professora Marcia Oliveira, os participantes do encontro virtual promoveram um rico debate, compartilhando suas experiências e preocupações. Célio Silva, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT-AC), destacou a importância de conscientizar a sociedade sobre os impactos ambientais negativos de grandes projetos, como parques eólicos, e a necessidade de um maior engajamento da Igreja e da sociedade civil na preservação do meio ambiente.
“A energia renovável, muitas vezes vendida como ‘limpa’, ainda causa danos significativos à natureza”, alertou Célio. “É triste ver líderes mundiais priorizando investimentos em armamentos em vez de salvar nosso planeta. Em vez de cuidarmos da Terra, parece que estamos mais preocupados em encontrar outro planeta para morar”, lamentou.
Lana Ferreira, jovem representante do Norte de Minas Gerais, compartilhou as graves dificuldades enfrentadas pelas comunidades tradicionais da sua região, com destaque para os intensos conflitos territoriais e a alarmante falta de apoio governamental. “Reafirmo o que a professora Marcia trouxe sobre o tecnicismo a serviço do capitalismo, que se sobrepõe à proteção ambiental”, declarou Lana, ressaltando a importância de dar visibilidade às denúncias sobre a dura realidade vivida pelas comunidades tradicionais em todo o país.

“Pensar e agir em redes para defender o que acreditamos para o cuidado com a casa comum”