Ouvimos, com frequência, o refrão “bandido bom é bandido morto” — uma ideia que se consolidou de tal forma que hoje se manifesta concretamente nas instituições estatais, moldando a gestão da segurança pública e das crises sociais. Tais desafios são enfrentados por um Estado econômico que busca dominar o humanismo, transformando-o em um assistencialismo dependente e em um pietismo estéril.
Como coroação desse processo, destaca-se o fenômeno religioso pentecostal e neopentecostal, que alimenta o imaginário coletivo com uma religiosidade sentimentalista, puritana e fundamentalista — uma cristandade rediviva, distante da caminhada evangélica das Comunidades Eclesiais de Base. Essas comunidades sempre estiveram próximas da realidade concreta das pessoas, de suas necessidades e dos gritos que emergem diariamente das periferias urbanas e existenciais.
Essa realidade desafiadora nos convoca a assumir, com seriedade, nossas responsabilidades como cidadãos e cidadãs. É necessário superar a tentação do punitivismo militarista, que vem se infiltrando de forma sorrateira também na educação. Um modelo de rigidez que contamina as instituições e nada compartilha com o verdadeiro projeto político-pedagógico — aquele que constrói relações de forma harmônica, fortalece vínculos e promove a responsabilização e a conscientização, especialmente das novas gerações, sobre seu papel na política como expressão do bem comum.
Paulo VI, grande impulsionador da Igreja conciliar, sinodal e profética — resgatada e atualizada por Francisco — já afirmava, há mais de meio século, que a mais alta forma de caridade e de humanidade é a política. Esse é o grande desafio de todos nós, especialmente daqueles que se inspiram no projeto do Reino de Deus: voltar a se encantar — e reencantar — com o bem comum. Precisamos nos conscientizar de que todos somos “políticos”, na medida em que amamos o bem comum e queremos ser construtores da civilização do amor.
Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 06 de junho de 2025.