A temperatura, em suas diversas dimensões — natural, social e política —, encontra-se em estado crítico, chegando a parecer doentia. Os equilíbrios parecem comprometidos de forma irreversível.

Um dos fatores determinantes dessa situação é o avanço de posicionamentos fundamentalistas e superficiais que, em todos os campos — do sentir ao conhecer, do refletir ao agir —, acabam por ridicularizar até mesmo conceitos e atitudes que possuem lógica e fundamentos científicos consistentes, os quais deveriam ser reconhecidos e aceitos como verdadeiros.

A realidade concreta mostra que estamos diante de uma crise de relações sem precedentes, uma crise verdadeiramente global, como já afirmava o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’:

“Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.”

Entre os fatores que alimentam essa crise estão o crescimento desordenado e descontrolado de muitas cidades, que se tornaram insalubres e hostis à vida humana. Não apenas pela poluição oriunda de emissões tóxicas, mas também pelo caos urbano, problemas de transporte, poluição visual e sonora.

Somam-se ainda componentes sociais como os impactos negativos de algumas inovações tecnológicas no mundo do trabalho, a exclusão social, a desigualdade no acesso e no consumo de energia e outros serviços, a fragmentação da convivência, o aumento da violência e o surgimento de novas formas de agressividade social, como o narcotráfico e o crescente consumo de drogas entre os jovens, além da perda de identidade individual e coletiva.

Esses sinais são, ao mesmo tempo, sintomas de uma degradação social profunda e expressão de uma ruptura silenciosa dos vínculos de integração e comunhão. Isso se reflete na imposição de um pensamento único e no aumento dos conflitos institucionais, os quais vão perdendo cada vez mais o sentido e a representatividade junto à população — especialmente entre os mais periféricos e existencialmente frágeis.

Sem dúvida, a crise ambiental global — e sua temperatura elevada — exige caminhos que ultrapassem a mera institucionalidade e formalidade. São necessários caminhos que se coloquem verdadeiramente a serviço da coletividade, por meio de uma escuta atenta e dialogal, capazes de gerar soluções duradouras e que promovam o bem viver.

Este bem viver é um projeto de vida e convivência que os povos originários continuam a propor com esperança, resistindo a todas as formas de violência, exploração e massacre — sonhando com um outro país e uma nação possível.

Há um enunciado claro que emerge das bases, das periferias, e que precisa se traduzir em atitude política concreta:

É preciso restaurar relações de justiça por meio da justiça restaurativa, dos círculos de paz, ajudando as pessoas a recuperar o sentido de cidadania — algo capaz de reencantar e despertar em cada ser humano a paixão pela política, o compromisso com o bem comum e os fundamentos de uma nova humanidade.

 

Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 03 de julho de 2025.

Tags:

Autores

Augusto Martins

Cláudia Pereira

Dom Itacir Brassiani

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira

Dom Jose Ionilton

Dom Reginaldo Andrietta

Dom Vicente Ferreira

Dom Wilson Angotti

Élio Gasda sj

Gianfranco Graziola

Gilberto Lima

Graziella Rocha

Henrique Cavalheiro

Igor Thiago

Irmã Eurides Alves de Oliveira

Irmã Mercedes Lopes

Jardel Lopes

Jardel Lopes

Marcelo Barros

Marcelo Lemos

Marcia Oliveira

Maria Clara Lucchetti Bingemer

Maria Clara Bingemer

Mauro Luiz do Nascimento Júnior

Osnilda Lima

Padre Dário Bossi

Padre Francisco Aquino Júnior

Padre Leonardo Lucian Dall'Osto

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Petronella M Boonen - Nelly

Petronella M Boonen - Nelly

Roberto Malvezzi (Gogó)

Rosilene Wansetto

Dom José Valdeci

Valdeci Mendes

Vera Dalzotto