Encontro no Santuário de Nossa Senhora Aparecida reuniu cerca de 500 agentes de todo o Brasil, que reafirmaram o compromisso da Igreja com a população privada de liberdade, denunciaram a violência no sistema prisional e defenderam “um mundo sem cárceres”
Por Comunicação Pastoral Carcerária Nacional
Edição: Cláudia Pereira| Cepast-CNBB
No primeiro fim de semana de julho, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, foi espaço para a Romaria Nacional da Pastoral Carcerária. O evento reuniu centenas de agentes de mais de 20 estados para reafirmar o compromisso com a dignidade da população privada de liberdade e para denunciar as mazelas do sistema prisional brasileiro.
Vestidos de verde e branco, cores que simbolizam a esperança e a pastoral, os participantes transformaram a peregrinação em um ato de forte expressão espiritual e política. A romaria ecoou a causa que insiste em não ser silenciada: a humanidade das pessoas privadas de liberdade. Em momento oportuno na casa da mãe Aparecida os agentes fizeram uma crítica pública ao que os agentes descrevem como um sistema penal historicamente violento, guiado por racismo, superlotação, tortura e abandono.
A pastoral que é vinculada à Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora (Cepast-CNBB) tem como missão evangelizar e promover a dignidade das pessoas privadas de liberdade.
Desde os primeiros momentos do sábado (05), a romaria revelou algo que vai muito além da devoção religiosa. O ato de peregrinar em equipe, rezar e partilhar o sofrimento dos que vivem atrás das grades transformou-se em crítica pública contra um sistema penal historicamente violento, guiado por racismo, superlotação, tortura e abandono. Uma realidade imersa na lamentável lógica punitivista. O evento religioso reafirmou a presença da Igreja que escolhe estar junto aos últimos dos últimos, sem fazer disso um negócio.

Durante a programação, Irmã Petra Pffaller, religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias de Cristo e coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, celebrou o reencontro com os agentes que, semana após semana, visitam unidades prisionais em todo o país. Em entrevista à TV Aparecida, ela destacou a força do trabalho coletivo, mas também alertou para um dos principais desafios atuais: a falta de voluntários. “Faltam pés dispostos a caminhar até o Cristo encarcerado”, enfatizou a religiosa.
Com o lema “Liberta, esperançar e transformar”, Irmã Petra lembrou que o Ano Jubilar da igreja alimenta a Esperança. “Que nossa missão siga firme, com fé, justiça e compaixão”, disse ela.
Foi também Irmã Petra quem sintetizou, com clareza evangélica, o panorama que guia esse trabalho pastoral: “O sonho de Deus é um mundo sem cárceres.”
Dialogando com o que ensinou o saudoso Papa Francisco, a atuação da Pastoral Carcerária é uma das expressões mais consistentes do que ele chamou de ser “Igreja em saída”. As visitas semanais, os relatórios sobre violações de direitos, o enfrentamento à cultura do espancamento e o trabalho de base com famílias das pessoas presas fazem da pastoral uma referência em defesa da justiça restaurativa e da extinção das práticas desumanas que reforçam o sistema prisional do país.
Aos pés da imagem de Aparecida — mulher negra, ícone de resistência e cuidado, os agentes reafirmaram sua vocação: ser presença cuidadora nos cárceres, denunciar as estruturas de opressão e anunciar caminhos de reconciliação e liberdade.
Para um país que detém os pobres, os negros e os indesejáveis, a romaria da Pastoral Carcerária é muito mais do que um evento religioso: é reflexo de um cristianismo que não se rende à indiferença. Uma fé que, ao invés de se esconder nos templos, se faz presença onde a liberdade foi negada.
