Por Sara Gomes | assessora de comunicação do Regional NE 3-CNBB
Nos dias 11 e 12 de julho, a cidade de Juazeiro, na Bahia, recebeu a Pré-COP 30 Nordeste, evento que reuniu lideranças religiosas, representantes de comunidades tradicionais, organizações da sociedade civil e especialistas para discutir os desafios e caminhos rumo a uma agenda climática justa, popular e inclusiva. A atividade integra o processo de mobilização e preparação da macrorregião para a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro deste ano, em Belém (PA).
Ao longo dos dois dias, os participantes refletiram sobre o papel da Igreja diante da crise socioambiental, a urgência da conversão ecológica e a importância da escuta dos territórios e saberes tradicionais. A programação contou com mesas, painéis, grupos de trabalho e momentos de espiritualidade, fortalecendo o compromisso coletivo com a Casa Comum e a promoção da justiça socioambiental.
Justiça socioambiental e escuta dos territórios
Na manhã do primeiro dia, 11 de julho, uma mesa redonda sobre justiça socioambiental abriu os trabalhos. Com mediação do padre Osvaldino Alves Barbosa, a atividade reuniu representantes da Igreja Católica e de entidades acadêmicas e populares.
Entre os participantes, estiveram dom Vicente de Paula Ferreira, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB; dom Plínio José Luz da Silva, bispo de Picos (PI); dom Gabriel Marchesi, bispo de Floresta (PE); além de representantes da CNBB nos regionais Nordeste 1 e Nordeste 3, das Comunidades Tradicionais Fundo de Pasto e da Universidade Estadual da Bahia.
As falas destacaram a urgência da crise climática no Nordeste, a importância da escuta dos povos do território e o papel profético da Igreja. Frases como “O futuro do planeta começa agora” (Dom Plínio), “Martirizada é a nossa Casa Comum” (Dom Gabriel) e “O capitalismo não mata o afeto” (Dom Vicente), marcaram o tom do debate.
Compromisso com a conversão ecológica
Ainda na sexta-feira, o Painel 1 discutiu o papel das Conferências do Clima diante da emergência ambiental global. Roberto Malvezzi (CPT), Letícia Vardiero (Diocese de Camaçari) e Hildebrando Pires (Cáritas NE4) abordaram a evolução histórica das COPs, os acordos firmados e os entraves para sua implementação. Os painelistas reforçaram a necessidade de ações efetivas por parte dos governos e da sociedade e destacaram o papel das organizações eclesiais na promoção de uma nova consciência ecológica.
Na parte da tarde, o Painel 2 aprofundou o olhar sobre o profetismo da Igreja no enfrentamento à crise socioambiental. O debate contou com a participação de dom Vicente Ferreira, da engenheira sanitarista Amanda Silva (Cáritas NE3) e de Maria José Pacheco (CPP Bahia e Sergipe). Foram discutidos os impactos das mudanças climáticas em biomas como a Caatinga e o Cerrado, com destaque para a escassez hídrica, insegurança alimentar e migração forçada. O painel reafirmou o papel da Igreja como promotora da conversão ecológica e inspirada pelos documentos Laudato Si’, Querida Amazônia e Laudate Deum, do Papa Francisco.
Encerrando o primeiro dia, os participantes se reuniram em grupos para refletir sobre o texto “Preparação para a COP 30: Um chamado à conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções climáticas”. O momento coletivo foi marcado por escuta ativa, diálogo e partilha de experiências locais. As sínteses apresentadas em plenária evidenciaram a diversidade dos territórios, o desejo comum de justiça e a valorização dos saberes ancestrais como pilares da resistência às falsas soluções do mercado frente à crise climática.
