Diante da santa cidade, o mais importante e sagrado lugar para o povo judeu, Jesus se lamenta, acusando-a de assassinato: “Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados” (Mt 23,37). A que se refere? Jerusalém, sede do poder político, econômico e religioso, sempre perseguiu e matou os profetas, assim como mataria Jesus. O poder, para se manter, acusa, tortura, humilha e mata: essa dinâmica lhe é própria.
Talvez pela primeira vez o mundo está vendo uma população inteira ser exterminada. A destruição da Palestina e o assassinato sumário dos palestinos por armas de fogo e também por inanição é mostrada por todas as lentes de TVs do planeta. Os horrores do Holocausto só foram revelados totalmente após a tomada dos campos de concentração por parte dos Aliados. Hoje, porém, a Palestina está sendo transformada em um imenso campo de concentração. Quem ali não morre vitimado pelas bombas ou por outras armas de fogo, capitula por conta da fome. Oficialmente mais de 50.000 pessoas já morreram nesse conflito. Porém, várias agências afirmam que os dados oficiais não são fidedignos e que talvez o número de mortos pode ser até 40% maior!
De qualquer modo não se trata de uma guerra. Uma guerra exigiria simetria de forças: uma nação contra outra nação. É um deliberado extermínio. O governo de Netanyahu, sob a desculpa de desarticulação do grupo terrorista Hamas, está cometendo um genocídio em plena luz do dia. Impedir que o Hamas continue exercendo suas atividades é de interesse de todos, mas usar isso como desculpa para exterminar uma população inteira é injustificável. O Hamas é apenas a justificativa oficial.
O governo de Israel deseja o território da Faixa de Gaza, só não vê quem não quer. Para isso não poupam esforços em dizimar toda a população local, mentindo desavergonhadamente diante do mundo todo. O mais triste é ver que tem muitos habitantes de Israel que apoiam isso tudo. Será que esqueceram a Shoah? Esqueceram todo o sofrimento que o Terceiro Reich infligiu ao povo judeu durante a II Guerra Mundial? Esqueceram que também seus antepassados próximos padeceram de frio e de fome em campos de concentração? Sabemos que muitos judeus em Israel e também em todo o mundo já ergueram a voz contra a política assassina do atual governo israelense. Porém não basta. Os cidadãos de Israel precisam reconhecer que está em andamento uma nova Shoah.
Não irei sequer comentar sobre aqueles que no Brasil, se dizendo cristãos, apoiam as ações de Netanyahu. Dignos de pena por causa da ignorância ou por conta da maldade. Mais absurdo que isso são os países que ainda não se manifestaram ou que apoiam esse genocídio. De nada serve fazer memória dos campos de concentração se, novamente, fecham-se os olhos para massacres desse gênero.
Ah Jerusalém, tu continuas matando! Por interesses, por dinheiro, por conveniência, por poder. E a todos e todas que declaram que Deus “entregou” aquelas terras ao povo escolhido, embasando-se em leituras fundamentalistas do Antigo Testamento eu declaro em alto voz a estes e a este “deus” que aceita que se assassinem inocentes: eu te renego com todo o meu coração, com toda minha alma e com todo o meu entendimento, pois o Deus no qual creio também foi um palestino assassinado por quem tinha sede de poder.