É triste ouvir, mas a COP 30 está fortemente limitada e ameaçada por uma questão econômica que envolve os altos custos de hospedagem e acaba afetando a participação dos países mais pobres — justamente os primeiros atingidos pelas mudanças climáticas e os que menos contribuem para elas.
A realidade é que não são apenas as representações dos países pobres que ficam de fora do grande debate e das possíveis decisões sobre o clima do planeta. Quem também acaba excluída de todo o processo é a população em geral e, de modo particular, os povos originários, atingidos nos últimos anos pela seca dos rios, sua poluição e pela falta de alimentos necessários à sobrevivência.
Escreve o Papa Francisco em Laudate Deum:
“Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática se impõem de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que nos afeta a todos. É verdade que nem todas as catástrofes podem ser atribuídas à alteração climática global. Mas é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos.” (LD 5)
O que se torna cada vez mais evidente é que o futuro do planeta e sua sobrevivência não dependerão apenas das decisões de governos e instituições governamentais, mas sobretudo da conscientização e mobilização das periferias urbanas atingidas pelos grandes lixões e pelos necroprogramas econômicos; da resistência e fidelidade na luta dos povos originários afetados por projetos de devastação e pelo chamado marco zero; da participação das juventudes periféricas, pobres e negras em um processo de transformação de paradigmas; e de uma mudança de hábitos por parte de todos os cidadãos e cidadãs.
Mais uma vez, recorda Francisco:
“Contrariamente a este paradigma tecnocrático, afirmamos que o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites. Nem sequer podemos considerar a natureza como uma mera ‘moldura’ onde desenvolvemos a nossa vida e os nossos projetos, porque ‘estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos’, de tal modo que se contempla ‘o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro’.” (LD 25)
E continua:
“Muitas vezes os grupos humanos ‘criaram’ o meio ambiente, remodelando-o de algum modo sem o destruir nem pôr em perigo. O grande problema atual é que o paradigma tecnocrático destruiu esta relação saudável e harmoniosa. Contudo, a indispensável superação deste paradigma tão nocivo e destruidor não se encontra numa negação do ser humano, mas passa pela interação dos sistemas naturais ‘com os sistemas sociais’.” (LD 27)
Enquanto “a história dá sinais de regressão (…), cada geração deve assumir as lutas e as conquistas das gerações anteriores e levá-las a metas ainda mais altas. É o caminho. O bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade, não se alcançam de uma vez para sempre; devem ser conquistados a cada dia. Para se obter um progresso sólido e duradouro, quero insistir que é preciso favorecer os acordos multilaterais entre os Estados.” (LD 34).
Oxalá possamos ouvir e responder ao grito global da Terra.
Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 18 de agosto de 2025.