Por Juce Rocha | Cepast-CNBB
A operação policial realizada na última terça-feira (28), nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, entrou para a história como a ação mais letal já registrada no estado, resultando na perda de mais de 130 vidas, superando em número o Massacre do Carandiru.
As reações de organizações sociais ligadas à Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast-CNBB), como a Pastoral Carcerária, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz e a Pastoral Nacional da Moradia e Favela, expressam indignação e um forte clamor por justiça e dignidade.
Um chamado à conversão social
A Pastoral Carcerária Nacional manifestou profundo pesar pelos acontecimentos, enfatizando que a violência institucional não pode ser um meio legítimo de promover a paz.
“Que esta tragédia sirva como chamado à conversão social e institucional, para que possamos construir um país com menos armas e mais vida; menos desespero e mais esperança; menos repressão e mais convivência humana, justa e solidária”, destaca a nota.
A nota enfatiza a dor de todas as vidas perdidas, incluindo moradores e policiais, e convoca a sociedade a refletir sobre a construção de um país mais justo, onde a vida e a dignidade humana sejam respeitadas. A mensagem finaliza com um convite à conversão social e institucional, em busca de um futuro onde haja mais esperança e menos repressão.
“A forma como a força estatal interveio mantém viva uma cultura de violência institucional que, como sociedade, já deveríamos ter superado. A violência jamais pode ser instrumento legítimo de construção da paz”, diz outro trecho.
Vidas em primeiro lugar
A Pastoral Nacional da Moradia e Favela expressou sua indignação em relação à operação policial, que resultou em um verdadeiro massacre de vidas. A nota pública denuncia a destruição de casas e sonhos nas comunidades, apontando para a falta de políticas públicas e a face cruel do racismo estrutural. A nota destaca que a segurança pública deve priorizar a proteção à vida e à dignidade, e que a repressão ao crime deve ser realizada de maneira inteligente e integrada, respeitando os direitos humanos.
“O Estado persiste em endurecer o coração diante do clamor dos pobres, mantendo uma relação de hostilidade com as periferias urbanas. Instrumentos que deveriam proteger a vida são usados para destruí-la, transformando justiça em opressão. Assim, corpos marginalizados tornam-se alvos de uma política de morte, que ignora a Constituição, profana a dignidade humana e afronta o Evangelho de Jesus Cristo, que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10)”, afirma um trecho da nota.
Um clamor por justiça
A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) também se posicionou fortemente contra a operação policial, considerando-a uma das mais mortais da história do estado. A nota critica a politização dos eventos por parte do governo e reivindica uma investigação rigorosa sobre as circunstâncias da operação. A CBJP solicita a implementação de políticas públicas que abordem as causas estruturais da violência, como pobreza e desigualdade, e convoca a sociedade civil a se mobilizar em defesa dos direitos humanos.
“A CBJP destaca que a política de segurança pública deve priorizar a proteção da vida e a redução de danos, e que a repressão ao crime se faz com inteligência, integração e proteção das vidas”, afirma um trecho da nota.