Nos próximos dias será celebrada, em Belém do Pará, a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima — a chamada Conferência das Partes, ou COP30. As COPs começaram em 1995, na Alemanha. Agora, 30 anos depois, será a vez de o Brasil reunir líderes de todo o mundo, em meio à floresta amazônica, em Belém.
O principal objetivo da COP tem sido definir medidas necessárias para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C até o final deste século, acelerando a implementação do que foi negociado nas conferências anteriores, principalmente na de 2015, em Paris. Trata-se de um processo que exige constantes aperfeiçoamentos. Além disso, no caso da mudança climática, houve uma grande evolução da ciência e do pensamento econômico sobre seus impactos. Assim, as COPs, ano após ano, aprimoram esse processo, criam legislações e orientam os países numa direção que, antes de tudo, é baseada na ciência. Desde a Rio-92, a ideia central tem sido acentuar a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos e considerar as necessidades específicas das nações em desenvolvimento.
Entretanto, o Brasil tem vivido, nos últimos anos, outro tipo de mudança climática — no âmbito social — que afeta igualmente aquilo que poderíamos chamar de clima social. Nele, crescem os fatores que ameaçam a convivência humana, colocando em risco o equilíbrio do universo e aumentando as forças de desequilíbrio que acabam afetando a saúde do planeta. Essa crise coloca seriamente em perigo o futuro da ecologia integral, a subsistência dos ecossistemas e da própria Casa Comum.
Um sinal eloquente dessa realidade é a recente chacina no Rio de Janeiro — expressão evidente de uma crise socioambiental que atinge o conjunto da vida social. Ela revela a crise institucional e estrutural do país e a incapacidade de oferecer respostas concretas e reais aos desafios que não se limitam à questão climática, mas envolvem todos os âmbitos da convivência humana: o ético, o social, o econômico e o religioso.
Por essa razão, a COP30 abrange um leque muito mais amplo do que o simples tema da crise climática. Na verdade, ela é expressão e reflexo de muitas outras crises que exigem respostas coletivas — respostas que nenhum governo ou instituição, isoladamente, poderá oferecer sem a participação e o envolvimento da sociedade. Nesse sentido, é muito significativa a realização, paralelamente à COP30, da Cúpula dos Povos, onde a participação democrática de povos indígenas, organizações e movimentos da sociedade civil debaterá e proporá caminhos para enfrentar os desafios do nosso tempo, sugerindo ações concretas para superar a mercantilização violenta do mundo e suas nefastas consequências.
Oxalá que a voz e o grito da Mãe Terra e dos pequenos rompam o silêncio ensurdecedor de uma sociedade militarizada e violenta, que aplaude e sacraliza a morte como norma de uma falsa segurança e tranquilidade — a paz dos cemitérios. Que essa lógica seja superada pela teimosa esperança dos profetas de um outro mundo possível, onde o fundamento da civilização seja o amor.
Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 06 de novembro de 2025