Margem do rio Iguaçu. Foto| Cláudia Pereira
“A concepção hegemônica da água como bem econômico é parte da gramática do sistema em transformar tudo em mercadoria”

 

Por Francisco Nonato do Nascimento Filho*

 

O Dia Mundial da Água foi criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993, para atender às resoluções da Conferência das Nações Unidas sobre meio Ambiente e Desenvolvimento. A data é marcada por mobilizações na grande mídia para sensibilizar a “população” para o consumo consciente da água. Cartilhas e vídeos são produzidos e distribuídos por grandes corporações, com o propósito de chamar atenção para as práticas de boa maneira sobre uso e reuso da água.

 

No ano de 2000, na Cochabamba, terceira cidade e a maior da Bolívia, acontecia o levante popular contra a privatização da água na Bolívia, levante que ficou internacionalmente conhecido como a Guerra da Água. A reação do povo Boliviano à onda de privatização era um dos reflexos do que estava em curso em toda América Latina com a onda neoliberal de privatização dos serviços públicos.

 

“A Guerra da Água não se encerrou, ela segue aberta em toda Nuestra América, e desoculta a luta de classes em curso em torno do acesso e direito à água e as desigualdades construídas e produzidas pela apropriação capitalista das águas”.

 

Para os movimentos populares da luta socioambiental, o dia 22 de março é marcado por lutas, denúncia e anúncio. Os movimentos populares do campo e da cidade têm denunciado o Projeto de Lei 4162/2019, que privatiza os serviços de água e esgotamento. Tal projeto revela os interesses da elite econômica do país em estabelecer o mercado da água, como tem demarcado o Movimento dos Atingidos Por Barragem (MAB), os interesses são de grupos econômicos como: Ambev, Vale, Suez, Coca-Cola entre outras corporações que vem controlando e se apropriando dos rios e das águas subterrâneas.

 

O Relatório de Conflitos Socioambientais e Violação de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil, organizado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), tem apontado para os altos índices de conflitos causados pela construção de barragens, pela indústria petrolífera, carcinicultura, piscicultura, privatização do acesso à água e ao território.

A resistência indígena, negra e popular em Nuestra America tem construído e apontado alianças necessárias para a defesa dos bens comuns e contra a mercantilização e financeirização da vida e dos territórios. A questão ambiental, apontada por esses movimentos populares, perpassa pela materialidade da vida e da centralidade da natureza e do trabalho. Seguir denunciando e anunciando projetos de futuro perpassa por uma agenda socioambiental anticapitalista, para evitar a Queda do Céu, como tem alertado o xamã yanomami Davi Kopenawa.

 

 

*Francisco Nonato do Nascimento Filho é educador popular no Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP). Este artigo teve edição de Flávia Quirino e o texto foi publicado originalmente no site Brasil de Fato.