A responsabilidade global na crise climática e justiça ambiental para o futuro do planeta
Por Zenir Gelsleichter*
Nos últimos anos, as mudanças climáticas com uma velocidade alarmante, estão afetando regiões de todo o planeta de forma sem precedentes. Fenômenos climáticos extremos, como inundações, chuvas intensas, avanço do mar sobre cidades e vilarejos, ventanias, tornados e ciclones, são sinais claros de que a exploração desenfreada da Terra pelo ser humano alcançou limites críticos.
Esses eventos naturais exigem uma reflexão urgente sobre o cuidado com a “Casa Comum”, e demandam ações de corresponsabilidade global. Tais ações devem envolver com um foco especial os países mais ricos. As nações em desenvolvimento e os mais pobres são os mais afetados pelas catástrofes climáticas, uma consequência direta da ganância de uma minoria que mantém suas riquezas à custa da destruição do planeta.
O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Laudato Deum, enfatiza a necessidade de “acordos multilaterais entre Estados” para enfrentar a crise climática de forma eficaz.
Causas e Consequências das Mudanças Climáticas
De acordo com as Nações Unidas, os principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa incluem a queima de combustíveis fósseis, a indústria, o desmatamento para agropecuária e monocultura, além da poluição gerada pela queima de combustíveis nos veículos, pelo uso de fertilizantes e pela produção de embalagens descartáveis. A construção de moradias que dependem de combustíveis fósseis e o uso generalizado de aparelhos de ar-condicionado também contribuem para o aumento da poluição atmosférica.
Embora as mudanças climáticas impactem toda a população global, os mais ricos são os que mais contribuem para o agravamento do problema. Estudo da ONU aponta que a parcela de 1% mais rica da população mundial é responsável por mais emissões de gases de efeito estufa do que os 50% mais pobres. Esses desajustes na distribuição das responsabilidades revelam uma disparidade crítica nas consequências das ações humanas sobre o meio ambiente.
O aquecimento global e as mudanças no clima têm gerado desastres naturais como secas extremas, desertificação, escassez de água potável e danos à agricultura, o que agrava a insegurança alimentar mundial. Além disso, as queimadas e incêndios florestais estão dizimando milhares de espécies animais, enquanto os oceanos, aquecidos, sofrem com a destruição da vida marinha.
Consequências Humanas e Deslocamento Forçado
As populações mais vulneráveis são, sem dúvida, as mais afetadas. O aumento dos deslocamentos forçados, o risco de doenças relacionadas às condições climáticas, a desnutrição, a escassez de água potável e o impacto psicológico causado por essas mudanças são algumas das consequências mais imediatas. As comunidades que são obrigadas a abandonar suas casas enfrentam não apenas a perda de seus meios de subsistência, mas também a ruptura de suas redes sociais e familiares, com mortes e separações dolorosas.
A Responsabilidade Humana e a Ética Ambiental
Em sua Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco expõe a responsabilidade humana sobre a criação divina, alertando para o fato de que a Terra é um bem comum a ser cuidado, e não uma propriedade a ser explorada. Ele cita o livro de Gênesis (Gn 2,15), que nos chama a cultivar e a guardar o jardim do mundo. Para o Papa, isso implica uma relação de reciprocidade responsável entre os seres humanos e a natureza, a Ecologia Integral.
“Os seres humanos têm um lugar de responsabilidade na criação de Deus: somos cuidadores e cuidadoras de todas as criaturas”, afirma Francisco, destacando que nossa saúde e bem-estar estão intrinsecamente ligados à saúde do planeta. O descaso com a natureza, resultado de uma exploração irresponsável dos recursos naturais, é um reflexo da violência humana que, muitas vezes, coloca os interesses de uma minoria acima do bem-estar coletivo.
O Papel da Comunidade Internacional
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que as espécies dos ecossistemas têm uma capacidade limitada de adaptação às mudanças climáticas. Muitas delas são vulneráveis devido a restrições fisiológicas, comportamentais e ambientais. Por isso, é urgente que os países poluidores adotem um modelo econômico mais sustentável, com uma revisão dos seus processos de produção e consumo, para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e mitigar os impactos do aquecimento global.
As soluções para os problemas climáticos exigem uma ação urgentíssima que envolve todos os países, logo, as nações mais ricas e mais poluentes sejam responsabilizadas pela destruição que estão causando, onde milhares de pessoas são vitimizadas. A mudança acontecerá se o Cuidado com a Casa Comum for assumido com seriedade e compromisso na dimensão da Ecologia Integral.
Fontes:
- Laudato Si – Papa Francisco
- Relatório de Avaliação do IPCC (2022) ONU
- Grito de Laudato Deum – Papa Francisco
*Zenir Gelsleichter, é leiga missionária e defensora dos direitos humanos, atua no Grupo de Trabalho da Pastoral Carcerária Nacional. É formada em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), possui pós-graduação e Educação do Campo e atuou como missionária no Brasil e em Moçambique e integrou a Secretária da Animação Missionária na Arquidiocese de 2017 a 2023.