Henrique Cavalheiro | Assessoria de comunicação do CPP
Mais de 60 participantes de todos os regionais do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), entre agentes de pastoral, assessores, pescadores e pescadoras convidadas, se reuniram na quarta-feira (26) para o primeiro dia da Assembleia Nacional de Avaliação e Planejamento do CPP. O encontro, realizado virtualmente, contou com a presença de Dom José Altevir, bispo da Prelazia de Tefé (AM) e presidente do CPP, e de Dom José Valdeci, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (CEPAST). Também contribuíram Alessandra Miranda, assessora da CEPAST, e Letícia Camargo, responsável pela incidência política do Painel Mar.
A mística de abertura foi conduzida pelos regionais Ceará e Piauí, trazendo um momento profundo de espiritualidade e reflexão coletiva. Inspirada na passagem bíblica de Romanos 5, 1-5, a celebração ressaltou a esperança que não decepciona e a fé que fortalece a caminhada dos povos das águas. Para enriquecer a meditação, foi lido o poema “Prece”, de Fernando Pessoa, que convida à entrega total à missão, ao serviço ao próximo e à conexão com a criação. No espírito da pastoral, o momento reforçou o compromisso de caminhar lado a lado com pescadores e pescadoras, buscando justiça e dignidade, alimentando a esperança e reafirmando a fé na resistência e na transformação em prol dos territórios pesqueiros.
Peregrinos da Esperança: Caminhando com a Pesca Artesanal
O Ano Jubilar 2025, proclamado pelo Papa Francisco com o tema “Peregrinos da Esperança”, é um convite para a renovação da fé, do compromisso profético e da luta por justiça social. Durante a Assembleia, Dom José Altevir, destacou que esse Jubileu não se limita à Igreja no Brasil, mas se estende ao mundo inteiro, sendo um chamado urgente diante de tempos marcados por desigualdades e desesperança. “A esperança não nos decepciona, porque a esperança para nós é o próprio Deus”, afirmou o bispo, citando Romanos 5,5.
Para ele, a missão das pastorais sociais, e do CPP em especial, é vivenciar esse chamado do Jubileu por meio de uma espiritualidade encarnada, comprometida com a transformação social e a defesa dos mais vulneráveis. O bispo lembrou que a luta dos pescadores e pescadoras artesanais pela proteção de seus territórios e modos de vida é um testemunho vivo da fé que se traduz em ação concreta. “O Jubileu da Esperança não é apenas um tempo de celebração, mas um chamado à profecia: denunciar as injustiças e anunciar a possibilidade de um mundo melhor”, destacou. Ele reforçou que, nesse contexto, a justiça social, o cuidado com a Casa Comum e o direito dos povos e da natureza são elementos fundamentais dessa vivência jubilar.
O compromisso do CPP com os pescadores e pescadoras artesanais reflete esse espírito do Jubileu: manter viva a esperança, fortalecer a organização comunitária e garantir que os direitos dos povos das águas sejam respeitados. Para Dom Altevir, é essencial que a esperança se traduza em transformação social, e que os agentes pastorais vivam a fé de forma ativa, impulsionando a luta por dignidade, sustentabilidade e justiça para todas as comunidades tradicionais pesqueiras.
Após a fala de Dom José Altevir, a Assembleia seguiu com uma roda de conversa, na qual diversos participantes compartilharam suas percepções sobre como a mensagem de esperança do Jubileu deve se refletir na realidade da pesca artesanal no Brasil. Em meio a tantos projetos de destruição e morte que rondam as comunidades pesqueiras, promovendo medo, fome e violação de direitos, foi ressaltada a necessidade de fortalecer a organização e resistência dos povos das águas. As reflexões trazidas nesse espaço serão sistematizadas e iluminadas pela espiritualidade jubilar, servindo como base para orientar o planejamento e as ações do CPP ao longo do Ano Santo de 2025.
Comunidades Tradicionais: a resistência viva na defesa socioambiental
Análise de conjuntura e contexto socioambiental foi facilitada por Letícia Camargo, do Painel Mar, que destacou os desafios e oportunidades que se apresentam para a pesca artesanal no atual cenário político brasileiro. Letícia ressaltou que, apesar de algumas conquistas na pauta socioambiental nos últimos anos, a pesca artesanal e os povos tradicionais seguem sendo o principal alvo de políticas que favorecem grandes empreendimentos e o agronegócio, resultando na exclusão de seus territórios e na fragilização de seus direitos. “Os povos e comunidades tradicionais representam hoje a última resistência socioambiental do país”, afirmou, reforçando a necessidade de fortalecimento da mobilização para garantir a defesa dos territórios pesqueiros e do meio ambiente.

A assessora também ressaltou que a luta das pastorais sociais precisa considerar essas dinâmicas geopolíticas, uma vez que o avanço das forças do mercado financeiro e do conservadorismo global representa uma ameaça direta às populações vulnerabilizadas. Ela alertou para o papel do imperialismo econômico e militar norte-americano, que fortalece a privatização de bens comuns e intensifica desigualdades, afetando diretamente os territórios dos povos do campo, das águas e das florestas. Alessandra reforçou o chamado para que a Igreja e as organizações populares assumam seu papel na defesa dos direitos dos povos tradicionais e na resistência contra modelos de exploração, enfatizando a importância de fortalecer as redes de solidariedade e a incidência política das comunidades pesqueiras. “O território é o lugar da esperança e da ação sociotransformadora. Como nos lembra o Papa Francisco, é dos territórios que vêm a criatividade e o poder de transformação”, concluiu.