Cerrado e a expansão agropecuária na região do Matopiba continuam sendo as maiores preocupações ambientais do país, demostra relatório do MapBiomas.
Por Cláudia Pereira | Cepast- CNBB
O desmatamento no Brasil registrou uma queda expressiva em 2024, com reduções em todos os biomas, com exceção da Mata Atlântica, que permaneceu estável. Apesar do avanço, o Cerrado continuou sendo o bioma mais devastado do país. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (15) pelo MapBiomas Alerta, durante o lançamento do Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2024), em evento na sede do Ibama em Brasília, com transmissão online. O MapBiomas é uma rede colaborativa que envolve organizações, universidades e empresas de tecnologia.
Em 2024, a área total desmatada no Brasil recuou 32,4% em relação a 2023, totalizando pouco mais de 1,24 milhão de hectares. O número de alertas validados caiu 26,9%. Contudo, o Cerrado liderou a devastação pelo segundo ano consecutivo, respondendo por mais da metade (52,5%) do total nacional, com cerca de 652 mil hectares. A Amazônia, com aproximadamente 377 mil hectares (30,4%), teve sua menor área desmatada em seis anos. Juntos, os dois biomas somaram quase 90% da supressão de vegetação nativa.
O relatório detalha que as formações savânicas (52,4%) foram as mais atingidas, seguidas pelas florestais (43,7%). A agropecuária permanece como principal vetor, ligada a mais de 97% da perda de vegetação nos últimos seis anos. O garimpo impacta majoritariamente a Amazônia (99% da área desmatada por esta atividade), enquanto a expansão urbana teve maior peso no Cerrado (45% em 2024).

Cerrado e Amazônia Sob Pressão
Os dados do MapBiomas corroboram com as denúncias de conflitos de terra e danos ambientais frequentemente reportados pelas pastorais do campo e os povos e comunidades tradicionais, especialmente em regiões de expansão do agronegócio e atividades ilegais. Na Amazônia Legal, por exemplo, o desmatamento acumulado desde 2019 alcança 6,6 milhões de hectares. A região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), uma importante fronteira agrícola no Cerrado, concentrou 75% do desmatamento deste bioma, apesar de uma redução local de 40% em relação a 2023. Quatro dos cinco estados que mais desmataram em 2024 estão no Matopiba, com Maranhão, Pará e Tocantins liderando o ranking nacional.
Outra área de atenção é a região conhecida como Amacro (Sul do Amazonas, Rondônia e Acre), que também é um polo de desenvolvimento agropecuário. A redução do desmatamento foi de 13%, índice proporcionalmente menor que a média nacional, segundo os dados do relatório. No geral da Amazônia, o Pará detém o recorde de maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024, com quase 2 milhões de hectares. A maioria dos estados amazônicos apresentou queda em 2024, mas o Acre registrou um aumento de 30% na devastação.
Outros Biomas: Entre Quedas e Estabilidade Impactada pelo Clima
A Caatinga ocupou o terceiro lugar em área desmatada e foi palco do maior alerta individual já detectado pela iniciativa: mais de 13,6 mil hectares desmatados em uma única propriedade no Piauí. A Mata Atlântica manteve-se estável, após uma expressiva queda de quase 60% no ano anterior. Segundo Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, eventos climáticos extremos, especialmente no Rio Grande do Sul, impactaram o bioma, impedindo uma redução que poderia ter chegado a 20%. O estado gaúcho, inclusive, teve um aumento de 70% no desmatamento devido a esses eventos.
O Pantanal apresentou a maior queda proporcional de desmatamento (quase 60%), seguido pelo Pampa (cerca de 42%). O MapBiomas ressalta, contudo, que sistemas de detecção remota possuem limitações em ambientes campestres, o que pode levar a omissões de dados nesses dois biomas.
Entre os estados que mais reduziram o desmatamento, Goiás se destacou com uma expressiva queda de 71%. Paraná e Espírito Santo também apresentaram reduções superiores a 60%. Por outro lado, além do Acre e Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro esteve entre os estados com aumento da devastação.
Desmatamento em áreas protegidas também diminui
O RAD2024 analisou a situação em Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). Em TIs, houve uma redução de 24% no desmatamento em relação a 2023, e dois terços dessas áreas não tiveram nenhum evento detectado. Ainda assim, a TI Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou o desmatamento nessas áreas, com um aumento de 125%. Nas UCs, a perda de vegetação nativa diminuiu 42,5%. Em UCs de Proteção Integral, a queda foi ainda maior, próxima a 58%. A APA Triunfo do Xingu (PA) foi a UC com maior área desmatada.
Ferramenta de monitoramento para ação
O MapBiomas Alerta consolida e refina dados de diversos sistemas de monitoramento (como Deter/Inpe, SAD/Imazon, entre outros). Cada alerta gera um laudo detalhado com imagens de satélite de alta resolução e informações geográficas e administrativas, disponível gratuitamente no site alerta.mapbiomas.org. A plataforma é uma ferramenta crucial para órgãos de fiscalização, setor financeiro, empresas e sociedade civil no combate ao desmatamento ilegal.
Nos últimos seis anos (2019-2024), o desmatamento no Brasil suprimiu uma área equivalente ao território da Coreia do Sul. O relatório completo do RAD2024 está disponível na íntegra no site do MapBiomas.
O relatório está disponível em versão digital, para acessar CLIQUE AQUI