Os vídeos das três noites estão disponíveis e trazem contribuições sobre as implicações socioambientais e pastorais do Jubileu e da Campanha da Fraternidade.

 

Juce Rocha | Cepast-CNBB

 

As três noites do Ciclo de Reflexões: Jubileu e Ecologia Integral, implicações socioambientais e pastorais foram marcadas por momentos de acolhimento, estudo e aprofundamento de aspectos socioecológicos e pastorais, a partir do que propõe o Jubileu da Esperança e a Campanha da Fraternidade.  
A primeira noite propôs uma imersão profunda no Jubileu sob uma perspectiva integral, explorando suas raízes bíblicas e significado para o mundo contemporâneo. O momento  contou com as contribuições de  Dom Joaquim Mol, bispo Coadjutor da diocese de Santos (SP) e Rosilene Wansetto, mestra em Ciências Sociais, educadora popular e secretária executiva da Rede Jubileu Sul Brasil.
Em sua apresentação Dom Joaquim Mol destacou aspectos como os apelos jubilares em favor da esperança, os sinais dos tempos que precisam ser sinais de esperança e trouxe também perguntas inquietantes: “O Jubileu da esperança de 2025 tem a ver com o caminho de renovação eclesial? Em que esse Jubileu poderá contribuir com as causas urgentes e necessárias da humanidade? O que será possível, mesmo a partir das velhas estruturas eclesiásticas, pensar e fazer como profecia da esperança para o mundo e para as comunidades eclesiais?”.
Ao revisitar os aspectos bíblicos do Jubileu,  Dom Mol provocou também a reflexão sobre a necessidade de atender ao convite do Papa Francisco com “um Jubileu para a humanidade, a partir do clamor dos pobres”. 

 

Memória e profecia

 

“Há 25 anos atrás o chamado foi pelo cancelamento das dívidas, especialmente a dívida externa, tendo em vista que na década de 1990 eclodiu a crise da dívida nos países empobrecidos. E o Papa, sensível a esta situação, convoca o Jubileu pelo perdão das dívidas.
Como estamos hoje? Hoje o problema segue com o aprofundamento do modelo de
financeirização da vida, a injustiça econômica, a má distribuição da renda, dentre outros problemas. Por isso, o olhar cuidadoso do Papa Francisco sobre os pobres”, destacou Rosilene Wansetto ao fazer memória da articulação popular que resultou no Plebiscito Popular da Dívida Externa, realizado entre os dias 2 e 7 de setembro do ano 2000, com mais de 50 mil urnas em cerca de 3 mil municípios e o apoio de 100 mil voluntários. Foram quase 6 milhões de pessoas votantes, dos quais mais de 90% dizendo “não” ao pagamento das dívidas. A partir desta memória de mobilização popular, Rosilene propõe pensarmos o Jubileu da Esperança como  justiça integral e questiona: “que compromisso social nós queremos construir para este ano de Jubileu? Como podemos fortalecer o esperançar anunciando um mundo mais justo?”.

 

Fotos: Cláudia Pereira/Cepast-CNBB

 

A segunda noite do Ciclo de Reflexões  foi dedicada à análise crítica das implicações socioambientais do Jubileu, com foco nos desafios e oportunidades para a construção de um futuro mais justo e sustentável.  Dom Ionilton Lisboa, bispo da Prelazia do Marajó (PA) e Márcia de Oliveira, assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), colaboraram com as reflexões. 
“Os profetas guiaram o Povo de Deus a partir de sonhos de libertação, então, a palavra sonho vai ser a palavra central da nossa reflexão desta noite”, sinalizou Márcia de Oliveira que trouxe para o momento formativo a memória de que “o Jubileu em todo o Antigo Testamento era para  lembrar, valorizar, cultivar a grandeza da libertação. A libertação do Povo de Deus foi carregada de responsabilidades e exigências. O Jubileu era uma forma de manter a coerência com o processo de libertação e renovar o compromisso com a causa da justiça”.  

 

Conversão ecológica

 

Em sua contribuição com a reflexão, Dom Ionilton levou destaques da Bula de Proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025, na qual o Papa Francisco pede que sejamos sinais de esperança defendendo os direitos dos mais pobres. “Em tempos de urgente crise socioambiental, promover um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos Pobres e da Terra. Este é o objetivo da Campanha da Fraternidade, com base no que propõe o documento Laudato Si. É isso também que o Papa apresenta ao lançar o Ano Jubilar”, enfatiza o bispo. 
“Na Laudato Si, o Papa Francisco reconhece a conexão entre a preocupação com a natureza, a justiça social, o engajamento na sociedade e a paz interior”, disse dom Ionilton que seguiu sua fala aprofundado o que a Igreja identifica hoje como pecado ecológico, ou seja, “ações ou omissões contra Deus, contra o próximo e contra o meio ambiente”, que exige a conversão ecológica. “Ou mudamos, convertemo-nos ou provocaremos, com nossas atitudes individuais e coletivas, um colapso planetário. Não existe planeta reserva! Só temos este. Ele vive sem nós, mas nós vivemos sem ele!”, alertou o bispo, fazendo referência ao Texto-Base da Campanha da Fraternidade. 
“A crise socioambiental afeta a todos, mas afeta mais aos indígenas, às comunidades tradicionais e populações de baixa renda no campo e nas periferias. As operações econômicas, nacionais e internacionais, que danificam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos nativos do território deverão ser chamadas com o nome devido: injustiça e crime. A palavra chave aqui é denunciar. Não tem como a gente fazer missão sociotransformadora sem conjugar o verbo denunciar”, enfatizou dom Ionilton.

 

 

Colaboraram com a temática da terceira noite, Alessandra Miranda, assessora da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB; Padre Jean Poul Hansen, secretário executivo do Setor de Campanhas da CNBB e Ricardo Alvarenga, professor e doutor em comunicação social, jornalista e defensor dos direitos humanos. Juntos, eles trouxeram reflexões na perspectiva das implicações pastorais do Jubileu, com o objetivo de fortalecer o engajamento da Igreja na promoção da justiça social e da ecologia integral. 

 

Acesse aqui apresentações e textos do Ciclo de Reflexões

 

“Ainda não levamos a sério a encarnação, ainda anunciamos um Jesus, um Deus desencarnado, que resulta em uma fé esotérica, à qual a realidade histórica, ecológica não se refere. Experimentamos isso nas críticas que recebemos sobre a Campanha da Fraternidade, quando dizem que a ecologia não tem nada a ver com a fé.  É preciso voltar ao Jesus histórico, cultivar uma espiritualidade libertadora, é preciso voltar às primeiras comunidades. Cuidado com o isolamento, cuidado com o entrincheiramento. É na comunidade que se vive a mística cristã ”, afirmou padre Jean Poul Hansen ao apresentar o itinerário proposto pelo Jubileu e pela Campanha da Fraternidade, na perspectiva de uma ação pastoral sociotransformadora. 
A comunicação sociotransformadora também foi destaque na terceira noite. “Onde está o conteúdo que vai gerar conversão ecológica, que vai provocar uma evangelização comprometida com a realidade, com a vida, com as pessoas, com a iminência de uma transformação social?”, questiona Ricardo Alvarenga. O jornalista também destacou que é preciso priorizar o combate à desinformação. “Em tempos de fake news e de polarizações, a Igreja precisa reforçar uma comunicação ética, promotora do diálogo, da verdade, porque a desinformação vai minando de nós a esperança e não podemos deixar que nos roubem a esperança”.

 

Pastoralidade sociotransformadora

 

Diante da proposta de refletir sobre as implicações pastorais, Alessandra Miranda destacou que essa provocação “abre uma porta pra gente que não vai fechar mais. Uma porta de ousadia, de capacidade de pensar, de capacidade de mudar”, destacou a assessora. 
Alessandra trouxe para o centro da sua reflexão o aspecto da pastoralidade sociotransformadora. “Para fazermos uma conversão ecológica precisamos perceber as dores e as delícias de sermos quem somos, precisamos de processos de revisão de planejamento de pastoral, com elementos da realidade. É preciso ter coragem!”. A assessora também compartilhou com o grupo algumas provocações: “Para uma pastoral que escute os apelos dos povos e do mundo, que reformas podemos fazer na atuação das pastorais sociotransformadoras, que considere a reparação das dívidas e a urgência em revisões pastorais sobre o machismo e o racismo? Como e quem acolhemos? O encantamento é para a autonomia ou para a dependência?”.
A atividade reuniu, em média, 200 pessoas a cada noite de forma presencial e remota, via plataforma de teleconferência, de 10 a 12 de março, na Sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF). 
A síntese das reflexões, com as contribuições das pessoas que participaram e refletiram juntas nas atividades em grupo de cada noite, também será transformada em um texto-base para fundamentar a continuidade destas reflexões e processos, além de inspirar as iniciativas e planejamentos pastorais, com as inspirações, provocações e motivações do Ano Jubilar e da Campanha da Fraternidade.

 

Assista as reflexões de cada noite

Primeira noite: Jubileu numa perspectiva integral

 

 

Segunda noite: Implicações socioambientais

 

 

Terceira noite: Implicações pastorais