Há 29 anos o Grito dos Excluídos e das Excluídas vem mudando o rosto do dia 7 de setembro no Brasil. O dia da pátria! Dia da Independência! A data não é mais exclusiva para desfiles cívico-militares, com alegorias à força do “Grito do Ipiranga”, de 7 de setembro de 1822. A articulação “Grito dos Excluídos e das Excluídas”, por organizações sociais da Igreja e dos movimentos populares, não se restringe ao dia da pátria, mas se estende por todo o ano com formações, articulações, reuniões, eventos culturais e audiovisuais.
Com o tema permanente, “Vida em Primeiro Lugar”, o 29º Grito, traz o lema “Você tem fome e sede de quê? ”. Uma conexão com o tema da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica, mas também com a realidade que mais grita no Brasil nos últimos quatro anos: a fome. E esta se multiplica por vários fatores. Não apenas a fome de comida, mas de direitos básicos.
5 eixos gritantes
O grito das políticas públicas
Não há dúvidas que as políticas públicas que corroboram a superação da fome sofreram muitos cortes de recursos com os governos Temer, Bolsonaro e o congresso nacional que tem legislado na última década. O projeto neoliberal avançou para ultraliberal. Em outras palavras, restrição de políticas públicas e redução do Estado. Foram sucessões de atos como terceirização irrestrita, reforma trabalhista, reforma da previdência, teto dos gastos, privatizações, priorização da dívida frente às políticas públicas de educação, saúde, assistência social.
O grito da Democracia e da Soberania
A frágil democracia de 35 anos (desde 1988), já passou por várias emendas e alternâncias de grupos no poder. E nos últimos dez anos também vem sofrendo ataques que chegou ao seu ápice no 8 de janeiro de 2023. Um episódio ainda com muitas nuanças, que a CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro já está explicando. A justiça está desvendando outros aspectos. O fato é que há que se gritar e defender o sistema democrático. Democracia não é apenas a escolha de governo, mas construir uma cultura democrática. Toda a sociedade deve se tornar democrática.
O grito contra as violências estruturais
A escravidão durou “oficialmente” 340 anos. Mas, seu legado ainda persiste até hoje na sociedade. A marca do racismo estrutural, que para uma parte da população é “culturalmente aceitável”, segue determinando quem fica desempregado, quem sobrevive em situação de rua, quem mora nas periferias, nas ocupações, quem prevalece como maioria nas prisões e nos índices de vítimas de assassinatos. Lado a lado com esse legado, grita-se também contra o machismo e o patriarcado que dissemina um acultura de morte.
O grito dos Povos Originários
Não há como deixa de gritar contra o marco temporal das terras dos povos indígenas. O caderno de conflitos da CPT aponta que 2022 os primeiros alvos da violência foram os povos indígenas. O relatório de violência contra essa população em 2022, organizado e lançado em 2023, pelo Conselho Indigenista Missionário – Cimi, aponta que entre 2019 e 2022 foram registrados 795 assassinatos de indígenas. Morreram também 3.552 crianças indígenas, de 0 a 4 anos de idade. O assassinato de mãe Bernadete, do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, BA, é um retrato da perseguição que as comunidades quilombolas sofrem por aqueles que disputam seus territórios.
Grito contra as desigualdades, economia que mata e a injustiça social
A fome é o resultado de uma economia concentrada nas mãos de uma minoria numérica que se conta facilmente nos dedos das mãos. A restrição de direitos, redução de investimento e má gestão das políticas públicas oferecidas empurram os pobres para o vale da fome, insegurança alimentar e das péssimas qualidades de vida. O problema das taxas de juros elevadas segue sugando o dinheiro dos pobres para enriquecer os bancos. Há que gritar, em alto e bom som, pela redução das taxas de juros, pela taxação das grandes fortunas e pela reparação da dívida pública.