Há meses, a mídia nacional tem concentrado nossos olhos e ouvidos em um único assunto: o Judiciário e os desdobramentos do processo sobre o golpe de Estado de 8 de janeiro, que completa três anos. Essa concentração de foco, embora compreensível, tem como efeito colateral o silenciamento de outras questões graves que estão sendo aprovadas e implementadas sem o devido debate. Um exemplo alarmante é a chamada “lei da devastação”, que, de forma abrupta, foi votada e aprovada no Parlamento brasileiro — mais uma vez, à revelia da sociedade.
Quando acompanhamos as notícias diariamente, o que vemos é um cenário sombrio, um agravamento contínuo das crises, sem sinais claros de soluções à vista. Essa desesperança vai se infiltrando em nossos lares, nossas conversas, nossos corações.
No entanto, o Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si’, já nos advertia sobre uma crise global em curso — não apenas ecológica, mas também social, cultural e espiritual. E, ao mesmo tempo em que denunciava essa realidade, o Papa semeava esperança. Ele acreditava que as organizações populares, em diálogo com as tradições religiosas, poderiam protagonizar um novo caminho. Um caminho em que “a fantasia dos pequenos” — a criatividade humilde de quem vive à margem — poderia oferecer respostas concretas para uma nova ecologia integral. Afinal, tudo está interligado.
É dentro dessa esperança que se insere o encontro realizado em Londres, reunindo organizações sociais e religiosas de várias partes do mundo. Esse encontro lançou uma campanha global pelo perdão — como alternativa ao pensamento único, ao sistema punitivo e vingativo que domina as instituições e, cada vez mais, os sentimentos das pessoas.
Essa iniciativa é uma pequena semente. Mas, como toda semente, carrega em si uma força transformadora. Ao germinar, ela pode produzir frutos que renovem as relações humanas, reconstruam vínculos, e promovam uma nova cultura. Uma cultura que saiba harmonizar e valorizar as diferenças, que promova justiça com compaixão, que substitua o ódio pela partilha, o castigo pela misericórdia, a vingança pela reconciliação.
Essa cultura nova pode transformar a “aldeia de pedra” — marcada por dureza, fechamento e exclusão — em uma casa comum, onde todos os seres possam habitar com dignidade e alegria. Onde o bem viver para todos seja o alicerce de uma nova convivência.
Que essa pequena semente do perdão encontre terra fértil em nossos corações. Que cure nossas dores, rompa as barreiras do medo e da indiferença, e nos dê um coração pobre, humilde e generoso. Um coração capaz de transformar o pouco em abundância, pela força da partilha e da fraternidade — verdadeiro tesouro para a humanidade de nosso tempo.
Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 23 de julho de 2025.

Tags:

Autores

Augusto Martins

Cláudia Pereira

Dom Itacir Brassiani

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira

Dom Jose Ionilton

Dom Reginaldo Andrietta

Dom Vicente Ferreira

Dom Wilson Angotti

Élio Gasda sj

Gianfranco Graziola

Gilberto Lima

Graziella Rocha

Henrique Cavalheiro

Igor Thiago

Irmã Eurides Alves de Oliveira

Irmã Mercedes Lopes

Jardel Lopes

Jardel Lopes

Marcelo Barros

Marcelo Lemos

Marcia Oliveira

Maria Clara Lucchetti Bingemer

Maria Clara Bingemer

Mauro Luiz do Nascimento Júnior

Osnilda Lima

Padre Dário Bossi

Padre Francisco Aquino Júnior

Padre Leonardo Lucian Dall'Osto

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Petronella M Boonen - Nelly

Petronella M Boonen - Nelly

Roberto Malvezzi (Gogó)

Rosilene Wansetto

Dom José Valdeci

Valdeci Mendes

Vera Dalzotto