A nossa sociedade pós-moderna que se tornou líquida e gasosa parece-me agora estar convivendo com duas doenças que ela própria produziu e que eu definiria como psicopatia e Alzheimer coletivos.
Digo isso a frente das declarações de pessoas que diante da evidência dos fatos e com provas concretas de um golpe de estado que elas planejaram chamam a isso de fantasias, de histórias sem valor e prova alguma.
Mais preocupante que essas falas sabidamente falsas é o fato de se transformarem em verdades incontestáveis para muitos, consolidando correntes de pensamento que destroem os sonhos e expectativas das grandes massas. Essas massas são frequentemente manipuladas por discursos fundamentalistas e pseudo-religiosos, como “Deus acima de tudo”, “pátria e família”, ou “defesa da vida”.
Contudo, essas bandeiras escondem um populismo que, aliado a essa psicopatia coletiva e ao Alzheimer social, se torna uma ameaça à democracia, que revela sua fragilidade e inconsistência. Isso se manifesta em uma violência institucional estrutural, sem alternativas críveis nas esferas institucionais da política, da justiça e até da religião.
Os exemplos são claros: o genocídio e a negação dos povos nativos através do marco temporal; o massacre de jovens nas periferias urbanas, em operações policiais truculentas; o crescimento das desigualdades, evidenciado por higienizações e militarizações de bairros; e a crescente intolerância racial e homofóbica, sufocando a diversidade e mudando a educação em um mecanismo autoritário, com escolas se aproximando de quartéis militares.
A tentação diante desse cenário é o pessimismo que nos faz refugiar na memória saudosista do passado que precisamos transformar em “memorial” para que, juntamente com os profetas de nosso tempo quais Júlio Lancellotti, Pepe Mujica, e muitos outros possamos fortalecer as iniciativas que nos ajudam a superar falas violentas, numa corresponsabilidade circular que os povos nativos nos apresentam em sua vivência e resistência, assim como a ação dos movimentos sociais e de pessoas que trabalham incansavelmente para novas formas de justiça, de participação coletiva e empática colocando os alicerces de uma economia inclusiva e de uma educação cujo marco é realmente tal.
Francisco, ao ampliar o tema da ecologia integral, nos convida a retornar ao âmago da condição humana: o coração, onde reside o potencial para gerar o novo.
Oxalá que possamos superar estes desafios presentes e as falsas e superficiais notícias escutando a verdade que está em nós.
Editorial veiculado na Rede de Notícias da Amazônia, no dia 27 de novembro de 2024.