É interessante observar a perspetiva de onde se olha a realidade do dia a dia e a interpretação que dela se faz a partir de diferentes latitudes do globo. Um exemplo claro disso foi a COP 30, evento global celebrado há poucos dias na cidade de Belém, no estado brasileiro do Pará.
Visto do Sul do mundo, o evento tem sido o tema central da imprensa, a notícia que ocupou páginas, horas de transmissão e gerou um vasto fluxo de palavras, criando até polémicas. Já no Norte do planeta, a COP 30 foi reduzida a uma das muitas notícias do cotidiano, deixando o destaque para realidades mais locais, que têm um efeito emocional mais impactante sobre as pessoas.
Isso nos leva a compreender que, apesar dos avanços tecnológicos, ainda somos reféns das torres campanários e do pequeno mundo ao nosso redor, que se concentra cada vez mais no nosso universo pequeno, restrito e hiperindividualista.
Tudo isso é, naturalmente, expressão de um pensamento atrofiado, que a própria globalização não consegue alcançar, com consequências que, mais tarde, diante dos fenómenos naturais, como as mudanças climáticas, e dos fenómenos sociais, como a mobilidade humana, geram uma postura de desconfiança e rejeição às pessoas que chegam aos nossos territórios. Isso cria fortes questionamentos, mesmo que, na realidade europeia, essas pessoas sejam um sinal de esperança e sustentem com seu trabalho a economia e o futuro de muitas nações hoje demograficamente envelhecidas e com graves carências sócio-económicas e culturais.
O populismo, no âmbito político-governamental, constitui hoje o maior perigo do presente, por sua capacidade de criar uma linguagem e uma compreensão distorcidas da realidade, construindo um mundo e uma história surreal e fantasiosa. Essa retórica capta as necessidades das pessoas e as conduz por sentimentalismos que, a longo prazo, desembocam em doenças depressivas e autolesivas, transformando coletividades em massas fundamentalistas e intolerantes, onde o diferente e o pensante se tornam ameaças que devem ser suprimidas e eliminadas.
Aqui também se explica a dificuldade de compreender e aceitar fenómenos como a multirracialidade e a plurietnicidade, riquezas que vêm acrescentar ao nosso tempo e história um contributo de positividade e novidade, como o Papa Francisco definiu profeticamente com o conceito de “ecologia integral” e “fraternidade e amizade social”, partes do novo horizonte que ele chamou de “casa comum”.
Oxalá as gerações presentes e futuras saibam colher esta mensagem.
Este artigo foi editorial da Rede de Notícias da Amazônia em 02 de dezembro de 2025