Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em diversas partes do mundo, a Igreja Católica tem assumido um posicionamento público em defesa dos migrantes, refugiados e apátridas em um contexto global marcado pela xenofobia e pela degradação da opinião pública sobre os migrantes. 
Nos últimos anos, têm surgido diversos grupos ligados à extrema direita, que influenciam o posicionamento negativo das sociedades em relação aos migrantes. Isso é resultado da eficácia da comunicação de grupos extremistas, que enfatizam o medo do desconhecido e associam migrantes a problemas econômicos e sociais. A percepção negativa de setores da sociedade se manifesta em discriminação, preconceito e xenofobia, afetando o acesso dos migrantes a direitos básicos como moradia, educação, trabalho e saúde, e é observada tanto na esfera pública quanto em questões sociais cotidianas.
No Brasil, tem-se multiplicado a xenofobia institucional, alimentada por discursos antimigratórios proferidos por figuras políticas e líderes de opinião que promovem essa forma de rechaço, normalizando o preconceito e influenciando a criação de leis e procedimentos restritivos aos migrantes. A sociedade brasileira, entre outras, vem naturalizando a discriminação contra os migrantes.
O preconceito tem sido direcionado a migrantes de determinadas origens ou com base na cor da pele, influenciado pelo racismo estrutural. A imagem do Brasil como país acolhedor pode não corresponder à realidade enfrentada pelos migrantes no cotidiano. Embora a imagem pública do Brasil seja a de um país receptivo, a experiência dos migrantes revela uma realidade de preconceito e xenofobia, especialmente em relação a grupos mais vulneráveis e empobrecidos pelo deslocamento.
O Papa Leão, insistentemente, tem encorajado a Igreja Católica, por meio de suas conferências episcopais e eclesiais, a se posicionar ativamente em defesa dos migrantes e refugiados, fazendo dessa causa uma prioridade de seu pontificado, assim como seu antecessor, o Papa Francisco, que se destacou na defesa dos migrantes e refugiados. Em sua mensagem no Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o Papa os descreveu como “mensageiros de esperança”.
De forma corajosa e profética, o Papa Leão tem criticado as políticas antimigratórias, como as do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descrevendo o tratamento que ele tem dado aos migrantes como “extremamente desrespeitoso e desumano”, e classificou como um “gesto de ódio” as restrições migratórias, a perseguição e a expulsão sistemática dos migrantes.
Encorajados pelo Papa Leão, líderes da Igreja em várias partes do mundo têm se posicionado em defesa dos migrantes e refugiados. A Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB) publicou uma nota na qual condena consistentemente as deportações em massa e a separação de famílias, defendendo a dignidade fundamental dos imigrantes. Os bispos pedem “soluções justas e misericordiosas” para as políticas migratórias e trabalham para defender os migrantes apanhados na repressão do governo.
Mais recentemente, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), por ocasião das conclusões do I Fórum das Migrações, ocorrido em Fátima, publicou uma nota de repúdio à “degradação da opinião pública em relação aos migrantes” em Portugal. A nota afirma que a Igreja “deve ser uma voz protetora dos migrantes”, ter “uma estratégia de comunicação integrada” capaz de reafirmar o direito de migrar com dignidade e o reconhecimento dos migrantes como sujeitos de direitos. E insiste que a sociedade não pode aceitar nem reproduzir os discursos difamatórios e as práticas orientadas pela xenofobia.
Várias denominações protestantes e líderes religiosos têm seguido o exemplo da Igreja Católica e assumido sua missão em defesa dos migrantes e refugiados, com firme posicionamento nas esferas públicas e privadas.
No Brasil, por ocasião da XXII Assembleia Nacional do Serviço Pastoral dos Migrantes, realizada de 31 de outubro a 02 de novembro de 2025, que reuniu diversos segmentos da Igreja que atuam com migrantes e refugiados, foi acenada uma posição ampla da Igreja do Brasil em defesa de políticas públicas migratórias pautadas nos direitos humanos.

 

Dom João Aparecido Bergamasco é Bispo de Primavera do Leste – Paranatinga (MT), membro da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora e presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes.

Tags:

Autores

Alessandra Miranda

Augusto Martins

Cláudia Pereira

Dom Itacir Brassiani

Dom João Aparecido Bergamasco

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira

Dom Jose Ionilton

Dom Reginaldo Andrietta

Dom Vicente Ferreira

Dom Wilson Angotti

Élio Gasda sj

Fernando Altemeyer Junior

Frei Betto

Gianfranco Graziola

Gilberto Lima

Graziella Rocha

Henrique Cavalheiro

Igor Thiago

Irmã Eurides Alves de Oliveira

Irmã Mercedes Lopes

Jardel Lopes

Jardel Lopes

Marcelo Barros

Marcelo Lemos

Marcia Oliveira

Maria Clara Lucchetti Bingemer

Maria Clara Bingemer

Mauro Luiz do Nascimento Júnior

Osnilda Lima

Padre Dário Bossi

Padre Francisco Aquino Júnior

Padre Leonardo Lucian Dall'Osto

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Petronella M Boonen - Nelly

Petronella M Boonen - Nelly

Roberto Malvezzi (Gogó)

Rosilene Wansetto

Dom José Valdeci

Valdeci Mendes

Vera Dalzotto

Relacionados

No data was found