É inegável que existe uma grande expectativa em torno do conteúdo da primeira Exortação Apostólica do Papa Leão, Dilexit te. É praxe que o primeiro documento papal expresse, de fato, o programa do pontificado e as linhas mestras que o caracterizam.
Dilexit te traz à memória a última Encíclica do Papa Francisco, Dilexit nos (Amou-nos), na qual ele tratava do amor humano e divino que brota do Coração de Jesus. Supõe-se que o Papa Leão, em continuidade criativa e pessoal, deseje levar-nos a refletir, a partir de uma visão teológico-pastoral, sobre a pobreza, retomando com vigor a opção preferencial pelos pobres. Essa opção foi apontada pela Conferência de Puebla como caminho da Igreja na América Latina e assumida pelo Papa Francisco como horizonte de todo o seu pontificado, inspirado no Pobrezinho de Assis e no sonho do Beato João Paulo I, que, diante das questões econômicas e do escândalo do IOR, afirmara:
“Como eu desejaria uma Igreja pobre para os pobres!”
Também é simbólico o fato de que, logo após o anúncio da Exortação, tenha sido publicada uma Carta Apostólica em forma de motu proprio, intitulada Coniuncta cura, tratando das atividades financeiras da Santa Sé. O texto convida todos a uma corresponsabilidade que fortaleça a comunhão no espírito da sinodalidade e do serviço a toda a Igreja.
Não menos significativa foi a recente fala de Dom Jaime Spengler durante o Congresso Internacional Teologia e Evangelização: Atenção aos Sinais dos Tempos (PUCRS, 4 a 6 de agosto). Com extraordinária lucidez, ele afirmou que a Teologia da Libertação continua sendo um tema pendente na Igreja da América Latina, sublinhando:
“Somente uma teologia atenta à vida concreta das comunidades, somente uma teologia sensível aos sinais do Verbo pode ter relevância. Caso contrário, torna-se academicismo — coisa de quem pensa numa outra dimensão, distante da realidade cotidiana. Essa teologia — enfatizou o bispo — só será possível se ela construir sua casa sobre uma pessoa: Jesus. Ele é o fundamento, a nossa fé, e só assim seremos capazes de resistir às intempéries e construir verdadeiramente um futuro.”
Oxalá que esses sinais dos tempos nos ajudem a ler e viver o Evangelho no presente e no futuro, animados pela esperança e pela força que o Papa Francisco procurou traduzir na prática ao retomar o tema da sinodalidade, tão caro ao Concílio Vaticano II. Que essa visão sábia e de longo alcance de São Paulo VI seja hoje a herança pela qual o Papa Leão é chamado a conduzir a Igreja neste tempo de história que se abre a um universo global, repleto de desafios, mas também de esperanças e alegrias de novos tempos mais fraternos.