O encontro é uma iniciativa da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora e se repete a cada ano priorizando uma temática

 

Por Juce Rocha | Cepast-CNBB
Reunidos nos dias 4 e 5 de julho, em Brasília, bispos de todo Brasil, referenciais das pastorais sociais, membros da Comissão Espiscopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast-CNBB), da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração (CEEM-CNBB), presidentes de organismos como a Cáritas Brasileira, atualizaram conhecimentos na Formação Socioambiental oferecida pela Cepast-CNBB.
Em visita aos participantes, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, destacou o vigor da ação do conjunto das pastorais sociais e organismos que integram a Cepast-CNBB, na ação pastoral e missionária da Igreja no Brasil. “Muito obrigada pelo empenho, pelo trabalho exaustivo e por tudo que vocês representam, do ponto de vista da afirmação da presença da Igreja na vida do povo, diante dos muitos desafios que vivemos atualmente”.
Durante a conversa aberta com o grupo, o secretário-geral também reafirmou encaminhamentos importantes para a próxima Assembleia dos Bispos, agendada para  abril de 2026, como o discernimento sobre a Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração se tornar uma comissão permanente da CNBB. 

Cenários da Igreja no Brasil e no Mundo

A formação ofereceu um momento para olhar e refletir sobre a atuação e presença da Igreja no Brasil e no Mundo, à luz do Papa Leão XIV. A reflexão foi conduzida pelo sociólogo e membro do Movimento Fé e Política, Jorge Alexandre Alves, que apresentou um panorama da atuação da Igreja, especialmente, a partir das orientações do Concílio Vaticano II, passando pelo cenário atual marcado pela ambiguidade da forte presença Católica, no âmbito dos meios digitais, bem como esses aspectos impactam a pastoralidade e a sinodalidade da Igreja hoje. 

“Passado o pontificado do Papa Francisco, que considero um kairós, o que está em jogo na Igreja hoje, com seu legado?  A sinodalidade, a agenda ambiental da Laudato Sí, a Economia de Clara e de Francisco, os três Ts de Terra, Teto e Trabalho”, destacou o sociólogo.
Olhando para o recente pontificado do Papa Leão XIV, Alves apontou aspectos que inicialmente considera relevantes, na perspectiva de compreender a identidade deste novo momento. “Leão sinaliza que quer promover mais unidade e a convivência pacífica, em meio às diferenças, buscando pontes de diálogo e reconciliação. O pontífice também expressou o desejo de uma gestão colegiada. Usar mecanismos de consulta, ouvir as pessoas, bispos, cardeais, dando uma resposta direta ao apelo de maior participação”, destacou o sociólogo.

Tempos raríssimos

A noite do primeiro dia do Encontro de Formação Socioambiental contou com um uma roda de diálogo das pastorais sociais com movimentos populares e organismos pastorais.
O grupo analisou o grave cenário da conjuntura, especialmente  em relação aos povos e seus territórios, com um olhar realista, mas sem perder a perspectiva do esperançar e das possibilidades de saídas orquestradas pela organização popular. Uma referência importante de Dom Pedro Casaldáliga, que costumava se referir aos tempos difíceis como “tempos raríssimos”, foi lembrada durante o diálogo.
“Dom Pedro Casaldáliga falava: ‘quanto mais difíceis os tempos, maior deve ser a nossa esperança’”, destacou o secretário-executivo do Cimi, Luis Ventura.
“Nós temos que assumir esta hora, não adianta só criticar, como se fosse um tempo que não nos pertence, nós somos deste tempo. E segundo Casaldáliga, o que significa assumir esta hora? Passa por compreender que essas causas atrapalham, são causas contra hegemônicas, pretendem uma outra visão de mundo. Nesta perspectiva, o Evangelho também atrapalha, também está propondo uma outra forma de entender a vida. Ou assumimos isso, ou vamos nos tornar apenas parte destes tempos raríssimos, sem saber para onde caminhar”, enfatizou o secretário, que finalizou sua reflexão lembrando que Casaldáliga afirmava que “tempos raríssimos também precisam ser tempos belos!”.

 

 

Implicações pastorais

O grupo contou ainda com a assessoria do padre Jean Poul Jansen, que conduziu o aprofundamento a respeito das implicações pastorais, na perspectiva do Jubileu da Esperança e da Ecologia Integral, resgatando outro momento promovida pela Cepast-CNBB e pelo Setor de Campanhas, que foi o Ciclo de Reflexões
Padre Jean Poul desenvolveu a reflexão a partir de quatro ideias centrais: Jubileu da encarnação; Volta às origens; Comunidades em missão e Anunciar a bendita esperança.
“Não é Jubileu da esperança é Jubileu da encarnação. Os jubileus ou são da redenção ou são da encarnação, este é da encarnação, há 2025 anos o Verbo se fez carne! Falamos muito da esperança, mas e a encarnação? Porque nós fugimos deste tema? Nós ainda anunciamos um Deus desencarnado, e qual o resultado? Uma fé esotérica, na qual a realidade histórica, ecológica, dado que estamos refletindo na perspectiva da ecologia integral, não se refere. É preciso voltar ao Jesus histórico, valorizar a vivência da fé, a partir da encarnação”, reflete Jean Poul. 

Iniciativas em curso

A formação também apresentou iniciativas que estão em curso, na perspectiva da afirmação da ecologia integral e do acesso à direitos essenciais, para que todas as pessoas tenham vida, como pressupõe a missão da Igreja, no seguimento de Jesus Cristo. 
A assessora da Cepast-CNBB, Alessandra Miranda, apresentou encaminhamentos práticos para a realização do Plebiscito Popular. A proposta é escutar a população brasileira diretamente sobre temas que impactam o cotidiano da maioria das pessoas, mas que raramente são decididos de forma democrática: redução da jornada de trabalho sem redução de salário, fim da jornada exaustiva 6×1, isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos que ganham mais de R$ 50 mil por mês.
Outra iniciativa apresentada foi a participação da Igreja na COP 30, o assessor da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração, padre Dário Bossi, atualizou informações o grupo Igreja Rumo à COP 30 e o documento “Um chamado por justiça climática e a Casa Comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”, mensagem das conferências e conselhos episcopais católicos da África,  Ásia, América Latina e Caribe, por ocasião da COP 30, prevista para novembro, na cidade de Belém, Pará.
O bispo diocesano de Brejo (MA) e presidente da Cepast-CNBB, dom Valdeci Santos Mendes, que acolheu os bispos neste espaço de convivência e formação anual, destacou a relevância do momento.
“Quero agradecer a presença de cada um de vocês e expressar a importância de aprofundarmos esses temas de forma coletiva, sobretudo nós que estamos neste caminho, com as comissões, organismos e pastorais sociais”.