Publicação da CEEM apresentada com a participação do teólogo, critica o modelo de desenvolvimento predatório e propõe uma nova relação com o planeta baseada na fraternidade e no cuidado com a “Casa Comum”.
Por Cláudia Pereira | Cepast-CNBB
Em evento online que reuniu mais de 160 espectadores na noite desta quarta-feira (25), foi lançado o Manifesto “Ecologia Integral: uma narrativa para enfrentar a crise socioambiental planetária”. A publicação, é uma iniciativa da Comissão Episcopal para a Ecologia Integral e Mineração (CEEM-CNBB) e foi transmitida pelo canal no YouTube da Cepast. O evento também marca o “Junho Verde”, mês dedicado à conscientização ambiental.
O encontro foi mediado pela antropóloga e teóloga Moema Miranda, que destacou a construção coletiva do documento. “Diante dos enfrentamentos à crise climática e ao avanço desenfreado da mineração, este documento foi organizado para nos ajudar a compreender o momento atual no Planeta. O Manifesto é uma narrativa para abordar as pautas socioambientais do Brasil e do mundo”, afirmou na abertura.
Dom Vicente de Paula Ferreira, presidente da CEEM-CNBB, apresentou a estrutura da publicação, que se divide em quatro capítulos. O texto percorre desde uma crítica ao extrativismo e ao modelo tecnocrata que prioriza o lucro em detrimento da vida, até a valorização da espiritualidade dos povos originários como caminho para uma nova consciência.
“Este Manifesto aborda a crise socioambiental a partir da perspectiva da Igreja e da sociedade. É um grito que quer ser profético em favor da vida e da natureza”, explicou Dom Vicente.
Guerra contra a Terra e o paradigma da fraternidade
O ponto alto do evento foi a participação do renomado teólogo Leonardo Boff, que aprofundou a análise do cenário global, descrevendo a situação atual como uma “guerra que estamos gerando contra a Mãe Terra”. Boff alertou para a falta de alternativas ao sistema capitalista dominante, que busca um crescimento ilimitado, e para os riscos de conflitos entre potências mundiais na disputa pela liderança global.
Como contraponto, o teólogo apresentou a alternativa proposta pelo Papa Francisco nas encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti: a superação do “paradigma do Dominus” – o ser humano que se vê como dono e senhor da natureza – pelo “paradigma do Frater”, que reconhece todos os seres como irmãos e irmãs, gerados pela mesma Mãe Terra.
“O Papa Francisco apresenta a fraternidade. E por quê? Porque todos nós fomos gerados da Mãe Terra”, explicou Boff, reforçando que essa visão é amparada pela ciência. “Desde a primeira célula até nós, temos a mesma base biológica. Isso nos convida a uma relação de fraternidade universal”.