Comunicação Popular - Foto: Cláudia Pereira
Em encontro virtual, comunicadores refletiram sobre a missão de “desarmar” a comunicação e construir pontes, através da 59ª mensagem do Dia Mundial das Comunicações Sociais do Papa Francisco.

 

Por Cláudia Pereira | Cepast-CNBB

 

Em um cenário onde denunciar a violência contra a vida e a natureza é um desafio diário, comunicadoras e comunicadores das pastorais sociais e organismos  reafirmam como “peregrinos da comunicação da esperança”. Reunidos virtualmente na última sexta-feira de junho (27), eles aprofundaram a mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que convida a “praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade”.  O encontro aprofundou o chamado para  a ação com a contribuição de Osnilda Lima, assessora da Comissão para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Jucelene Rocha, comunicadora da Cepast-CNBB, conduziu o encontro com uma ciranda de acolhida, destacando a importância do espaço como um “mosaico afetivo e efetivo” para a integração e fortalecimento dos comunicadores das pastorais e organismos que compõe a Ação Sociotransformadora.
O ponto central do encontro foi a análise da mensagem do 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, apresentada por Osnilda Lima, que detalhou as três ações propostas pelo Papa Francisco para uma comunicação que semeia a esperança. Ao compartilhar sua reflexão, afirmou: “Gosto de olhar a última mensagem do Papa Francisco para nós, comunicadores e comunicadoras, como um projeto de vida”.
Para uma comunicação mais humana a assessora abordou três eixos principais de ação:
  1. Desarmar a comunicação: Um convite para abandonar a agressividade, especialmente no ambiente digital.
  2. Dar razão à esperança: Reconhecer que Jesus Cristo é a fonte da esperança que deve ser comunicada.
  3. Cultivar a esperança em comunidade: Fortalecer os laços comunitários, muitas vezes fragilizados no contexto digital.
A assessora da CNBB também ressaltou o apelo do Papa para “cuidar do coração”, resistindo a impulsos reativos e promovendo uma vida interior saudável. “Ele nos chama a ser testemunhas de uma comunicação não hostil, que construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo”, explicou.
Durante sua fala, Osnilda traçou um paralelo entre o  Papa Francisco e o Papa Leão XIV, destacando como ambos os pontífices respondem a importantes mudanças  da Igreja. Ela enfatizou a constante mensagem de Francisco sobre “construir pontes”, um papel fundamental para a comunicação da Igreja. Ela encerra as provocações da mensagem pontuando a proposta comunicacional de Francisco que está em total sintonia com o espírito de São Francisco de Assis, a quem ele recorre constantemente.

 

Momento de partilha de Osnilda Lima com os comunidadores/as Sociotransformadores.
Vozes da Ação Sociotransformadora
A reflexão motivou diversas intervenções. Henrique Cavalheiro, comunicador do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), definiu a comunicação como uma ferramenta de luta. “Nossa comunicação é uma ferramenta de luta, então que seja consciente e de responsabilidade. O convite para sermos ‘peregrinos da esperança’ exige um olhar atento às narrativas dominantes da mídia, frequentemente influenciadas por interesses do capital”, refletiu.
Carlos Henrique, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), celebrou o alinhamento do pontificado de Francisco com as pautas dos povos, como a luta pela terra, o combate à violência e a defesa da Amazônia. Indi Gouveia, da Cáritas, reforçou a necessidade de manter a humanidade na comunicação, enquanto Darcy Lima, do Serviço Pastoral do Migrante (SPM), convocou os colegas a serem “correio da Boa Notícia”, divulgando experiências que fortalecem a solidariedade.
Ao final das reflexões, Osnilda comparou o encontro dos comunicadores a  uma “casa de Betânia”, um lugar de descanso e fortalecimento para seguir na missão.
Desafios, pautas comuns e estratégias para o amanhã
O grupo também debateu os desafios práticos da missão, como a sobrecarga de trabalho, os cuidados com a saúde física e mental e a dificuldade de dar visibilidade a inúmeras denúncias de violência na cidade, no campo, nas florestas, nas águas e contra os migrantes. Uma preocupação comum é a mobilização social de enfrentamento aos projetos de lei que ameaçam o meio ambiente e a vida dos povos, como o  “PL da Devastação”.
Ao final, o grupo discutiu a expectativa para o próximo Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), que acontecerá de 25 a 28 de setembro em Manaus, com o tema “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa”. Osnilda, que integra a comissão executiva do evento, destacou que o objetivo é promover um diálogo amplo com a sociedade para além de um encontro de pastoral da comunicação na igreja, a proposta do Muticom é que seja um diálogo com a sociedade.
Diante da importância de garantir a presença dos comunicadores/as das pastorais no evento, o grupo encaminhou a proposta de uma carta conjunta, assinada pelos presidentes das Comissões Ação Sociotransformadora e a Comissão de Comunicação da CNBB, para incentivar a participação e apoio aos comunicadores das pastorais.
Ao encerrar o encontro, Henrique Cavalheiro lembrou a solenidade do Sagrado Coração de Jesus e a história do Padre Júlio Lancellotti para falar de um amor que transborda, mesmo na dor. Ao som de “Nave Terra”, de Rita Lee, os participantes reafirmaram seu compromisso de alimentar a esperança e fortalecer a comunicação como ferramenta de transformação social.

 

Tiago Miotto, comunicador do Cimi. Peregrinos e peregrinas da Comunicação da Esperança praticando o “correio da Boa Notícia” para fortalecer a luta e construção do Bem Viver. Foto: Cláudia Pereira