Comecemos com uma pergunta gigante, que pode parecer tão distante quanto as Conferências das Partes da ONU, as COPs, estão longe do dia a dia das comunidades que acompanhamos.
Quem decide o futuro do Planeta?
Os grandes do mundo, diriam muitas pessoas. Até Jesus no Evangelho comenta: “Vocês sabem: aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm autoridade sobre elas” (Mc 10, 42).
Porém, até hoje, as grandes contradições e injustiças mundiais não vêm sendo superadas: desigualdade, fome, guerra, colapso climático. É a crise da governança global: cada país busca seus interesses imediatos, falta uma autoridade mundial com as condições e a legitimidade para impor prioridades e regras em defesa dos pobres e da Mãe Terra.
Os governos são reféns dos interesses do capital internacional; acabam sendo como os ventríloquos: falam pela barriga. Às vezes defendem princípios democráticos, promovem a sustentabilidade e a economia verde, mas nos bastidores tomam decisões opostas.
Do acordo de Paris até hoje, por exemplo, a extração de petróleo, em lugar de diminuir, aumentou. Até 2040, o consumo mundial do combustível fóssil seguirá crescendo e chegará à máxima histórica em 2070, dizem as pesquisas.
Papa Francisco foi muito direto quando declarou que quem governa este mundo, hoje, é “uma economia que mata” (EG 53).
Mas, então, quem pode decidir outro futuro para o Planeta?
Nós, pastorais sociais e ambientais, pequenas comunidades cristãs, movimentos populares, populações indígenas, comunidades quilombolas, agricultores familiares, acreditamos que “a história do clima se muda a partir dos territórios”.
Estamos nos organizando para exercer forte pressão política; estaremos na COP30, em Belém, e em diversas atividades preparatórias, incidindo no Plano Clima do Brasil e em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas. Queremos ser voz forte, frente “àqueles que se dizem governadores das nações” (não faltou ironia a Jesus, nesta frase!).
Porém, acima de tudo, acreditamos que é a vida destas pequenas comunidades que pode transformar a história do clima, do colapso para uma reconciliação com a Terra. São as economias de pequena escala, as relações próximas entre campo e cidade, os projetos de vida dos povos que “quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida” (Laudato Si’, 146).
Assim, sonha Papa Francisco, a verdadeira governança global se afirmará somente a partir de um “multilateralismo a partir de baixo” (Laudate Deum, 38). Queremos apostar na capacidade dos pequenos tecerem redes de intercâmbio, aliança, propostas e reivindicações. Insistimos para que o poder político e econômico invista na experiência, iniciativa e criatividade destes povos, grupos e movimentos.
“Mas que posso fazer eu, isolado, frente a tantos problemas, privado de meus direitos, quase sem nenhuma solução para meus sonhos?” – perguntavam os movimentos populares a Papa Francisco na Bolívia, em 2015.
O Papa respondeu: “Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos ‘3T’ (Terra, Teto e Trabalho), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem! Vós sois semeadores de mudanças”.
É com este espírito que o projeto “Igreja rumo à COP30 – Articulação por Ecologia Integral e Justiça climática” avança com teimosa esperança. Conheça mais aqui.