Oxalá aprendamos com os povos indígenas a circularidade e linearidade democrática, onde todos, desde o menor ao maior, o mais jovem e o mais experiente, participam de forma real e efetiva na construção da vida do dia a dia e na caminhada presente e futura de seu povo.
Existe em mim um sentimento que me preocupa muito e me faz pensar que, apesar de continuarmos a falar de um passado presente que não queremos que se repita, a verdade é que ele continua presente de uma nova forma que sutilmente se camufla e assume os contornos do que nós e a maioria do povo querem ouvir. Eu chamaria isso de neopopulismo.
O que está acontecendo na sociedade, nos antros da política e no próprio imaginário simbólico religioso é algo que, de forma camuflada, perpetua certo tipo de poder e dominação que temos dificuldade de encarar ou que inconscientemente transformamos em ideias e falas emblemáticas que não deixam de ser, algumas vezes, ocas ou de alguma forma paradoxais.
É por isso que, como entidades das mais variadas expressões sociopolíticas e religiosas, não conseguimos ter impacto sobre uma realidade exigente e ao mesmo tempo tão evasiva que leva em seu DNA o fascinante e perverso projeto neoliberal que, teoricamente, deveria favorecer as pessoas, mas na realidade acaba ampliando as distâncias e favorecendo apenas alguns e suas estruturas e meios de poder.
Nesta linha ideológica segue toda a ação economicista, com seus tentáculos que abrangem todas as esferas, transformando-as por meio da camuflagem ético-sagrada numa aparente panaceia, suportada pelo falso rigorismo, transparência, bem-estar coletivo e negacionismo diante das realidades sociais das periferias urbanas e existenciais. Expressões evidentes disso são a derrubada dos vetos em relação às “saidinhas”, a onda de privatizações de vários serviços sociais, até chegar ao mais impressionante destes dias, que transforma o direito pétreo da educação em produto para alguns privilegiados.
Eis a razão pela qual eu estou afirmando com todas as letras que continuamos reféns de uma forma que aparenta democracia, mas que, na realidade, continua com a oligarquia, o patriarcado, o coronelismo que mudou de pele, mas continua por baixo dela alimentando uma tirânica ditadura que não mais se exerce nas praças. Ela tem seus novos adeptos e instrumentos nos palácios e nas poltronas de veludo, que enchem a boca com a palavra DEMOCRACIA, mas na realidade continuam com um status de AUTOCRACIA.
Oxalá aprendamos com os povos indígenas a circularidade e linearidade democrática, onde todos, desde o menor ao maior, o mais jovem e o mais experiente, participam de forma real e efetiva na construção da vida do dia a dia e na caminhada presente e futura de seu povo. Talvez isso nos ajude também a respeitar a casa comum e a entrar na lógica da ecologia integral, hoje uma necessidade à qual, em todas as latitudes do planeta, temos de dar resposta.