Foto: Carlos Silva/Dilvugação
A frase de irmã Dorothy Stang foi lembrada na manhã desta quarta-feira (12) pelo bispo emérito do Xingu, Dom Erwin Kräutler ao celebrar a memória dos 20 anos do martírio da religiosa assassinada com seis tiros, a mando do fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, numa estrada de terra de difícil acesso a 53 quilômetros de Anapu (PA).
Uma vasta programação no Pará e em todo Brasil celebrou o legado e a memória da missionária que doou a vida na luta em defesa dos povos e comunidades originários e tradicionais, vítimas dos conflitos fundiários, especialmente no estado do Pará e em toda a região Norte do país. Irmã Dorothy foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005, por se opor aos interesses dos grandes latifundiários.
Em homilia, durante a missa celebrada na manhã de hoje (12), no Centro de Formação São Rafael, onde a missionária está enterrada, Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu, lembrou cenas dos momentos de dor e indignação, diante da notícia do assassinato e do corpo inerte de irmã Dorothy.  
“Lembro-me como se fosse ontem da dor que invadiu meu coração quando, por telefone, recebi a notícia de que a irmã Dorothy foi assassinada numa vicinal da Transamazônica-Leste, em Anapu. Lembro-me da Santa Missa de Corpo Presente que celebrei na Igreja da Imaculada, no Bairro Brasília, em Altamira. Jamais posso esquecer o semblante do povo que participou. Homens e mulheres consternados, assombrados, apavorados, sem poder acreditar no que aconteceu, sem entender toda essa crueldade”.  

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Dom Erwin fez memória também dos primeiros contatos que teve com a missionária, que sempre investiu tempo e energia “entre os pobres mais pobres” e foi ter com o bispo a bênção para viver e ser missionária na então Prelazia do Xingu.
“‘Quero trabalhar entre os pobres mais pobres’. Respondi que seu desejo, mesmo que seja muito nobre, não era tão fácil de se concretizar. Pensei na Transamazônica-Leste. Anapu ainda não era município (foi instalado apenas em 1º de janeiro de 1997). Na década de 1980, a pobreza que grassava aí era uma verdadeira ‘miséria’: malária, fome, violência, falta de assistência e transporte foram apenas alguns dos ingredientes na vida de quem lá chegava pensando que iria encontrar um novo Eldorado. Dorothy simplesmente me pediu: ‘Por favor, me deixe experimentar!’. E ela ‘experimentou’ essa vida vivida com os pobres até o fatídico dia 12 de fevereiro de 2005, quando às sete e meia da manhã foi brutalmente assassinada”, relata dom Erwin.
A missa foi uma iniciativa das irmãs de Notredame que dão continuidade à caminhada empreendida com fé e ousadia profética pela irmã Dorothy e suas primeiras companheiras na missão em Anapu. Após a celebração, houve almoço comunitário aberto a todas as pessoas que se achegaram em comunhão.