Artigo, a partir da fala de padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB, no 1ª Mutirão da fase de encerramento da 6ª Semana Social Brasileira, realizado no dia 31 de outubro de 2023. Nesse espaço foi dialogado e refletido sobre “O Brasil que temos”. Participaram, no formato online, 60 pessoas de diversas regiões do país, que trouxeram suas contribuições e reflexões em vista da construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos”. Contribuiram na condução do Mutirão: Alessandra Miranda, secretária executiva da 6ª Semana Social Brasileira e padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB.
Eis o artigo
Cinquenta grupos empresariais no Brasil têm direito a usar 5,2 trilhões de litros de água por ano. São gigantes do agronegócio, do setor sucroalcooleiro e do papel e celulose. Toda esta água seria suficiente para abastecer, por um ano, 94 milhões de pessoas, quase a metade do país.
Ao oposto deste projeto de concentração, temos no Brasil o projeto de convivência com o semiárido, que se destacou pelo programa “Um milhão de cisternas”. Este programa fomenta a cultura do estoque (de água, alimento e sementes). Em vez de grandes açudes em terras particulares, as cisternas estocam um volume de água para uso de cada família; o princípio fundante da cultura de convivência com o semiárido é a descentralização e a democratização da água. As famílias que o adotam passam de dependentes a gestoras de sua própria água.
Este contraste é um exemplo dos diversos projetos que moldam as relações de vida entre as pessoas, e delas com o meio ambiente, em nosso país. Um projeto popular precisa responder com consciência e criatividade às ameaças que estão destruindo o tecido destas relações.